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O dia em que Geisel detonou tradutora na Alemanha e esmurrou a mesa

José Escarlate

Na viagem do presidente Ernesto Geisel à Alemanha, visitamos diversas usinas nucleares, quando seria assinado o acordo para construção de duas unidade no Brasil. Na ocasião, ocorreu um atrito sério entre o coronel Toledo Camargo e o secretário de imprensa do governo alemão. Normalmente, no último dia de sua viagem ao exterior, Geisel concedia entrevista coletiva à imprensa internacional. Mas só respondia sobre assuntos da viagem, sem deixar que se tratasse de temas brasileiros.

Nessas ocasiões, o presidente era ladeado pelo nosso chanceler e pelo seu secretário de imprensa, no caso, Camargo. Na hora, o homem de imprensa do governo alemão disse que a ele caberia conduzir a entrevista, com o que não concordou Toledo Camargo. O presidente era dele e só a ele caberia conduzir o “speach” de Geisel. Houve bate boca, antes da coletiva. Nós assistíamos a tudo. Camargo não falava alemão, e o germânico não entendia português. Estava ótima a coisa. E complicada. Para os jornais, um prato cheio.

Na queda de braço, Camargo levou vantagem e coube a ele conduzir a entrevista. As perguntas eram feitas por escrito, com antecedência, para evitar surpresas maiores. Definidas as posições, os jornalistas alemães deixaram o auditório, boicotando a entrevista de Geisel, solidários com o seu diretor de imprensa. Mas mesmo assim ela foi levada adiante, pois havia grande número de correspondentes estrangeiros, ávidos por notícias sobre o acordo nuclear assinado.

Tudo corria bem. Uma moça fazia a tradução simultânea de perguntas e respostas. Mas logo no início, a coisa estourou. Geisel conhecia perfeitamente o alemão. Entendia tudo, mas falava pouco. Quando a senhora traduziu uma resposta, o presidente, indignado, disse que ela estava traduzindo tudo errado, dando um soco na mesa e contestando a informação.

Vermelhão, Geisel não se conteve e detonou: “Está tudo errado. Manda essa moça calar a boca. Estou entendendo tudo”. Nessa época, a entrevista era transmitida ao vivo para o Brasil, via Embratel, através do canal de voz da Empresa Brasileira de Notícias, a EBN e foi ouvida nos quatro cantos do Brasil. Diplomatas dos dois países, surpreendidos, buscavam uma solução, que só foi achada quando a moça foi substituída por um dos barbudinhos do Itamaraty. Mas aí, o caldo já havia entornado. A entrevista foi encerrada, em meio a grande mal-estar.

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