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Simpósio intergaláctico

O gênio cearense que morreu sob caminhão pensando ser disco voador

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Autor/Imagem:
Cadu Matos - Foto Francisco Filipino

O cearense Eugênio, como o nome indica, era um gênio.

Não desses de contos de fadas, da lâmpada mágica, abrigo do parça de Aladim, depois europeizados, aportuguesados e trazidos para o Nordeste brasileiro. Não, ele era um gênio do intelecto. Ou julgava ser.

Olhando para ele, ninguém diria. Era uma coleção de inhos: feinho, baixinho, enfezadinho e por aí seguia. O brilho de seus olhos não vinha da inteligência e sim de só pensar naquilo, gostava do fuzuê mas, infelizmente, a esmagadora maioria das moçoilas de Fortaleza não queria nadica de nada com ele. Tampouco se distinguia nos testes de Quociente de Inteligência que pululam nas redes sociais. Fizera um deles e obtivera um resultado de 92, cinco pontos superior aos 87 da média brasileira. Sua reação foi dar uma rabissaca de desprezo, afinal, vários outros testes atestavam sua genialidade.

O das linhas da mão, por exemplo. Segundo a postagem, se você colocasse lado a lado as palmas das mãos e as linhas marcantes de cima – as chamadas linhas do coração – se encontrassem certinho, formando uma curva perfeita, você era um gênio. Isso acontecia no caso de Eugênio, que ficou todo pimpão por ter seu altíssimo intelecto cientificamente comprovado. O curioso é que o teste se baseava nas linhas do coração, não nas linhas da cabeça, mas, para os seus divulgadores e para o feliz promovido ao olimpo da inteligência, isso era uma insignificância, um mero detalhe.

O Einstein cearense tinha outras peculiaridades. Não trabalhava, pois jamais encontrara um emprego digno dele, à altura de sua genialidade.

Era um pinguço inveterado, chamado por alguns invejosos de “pudim de cachaça” – e, na verdade, sustentado pela mãe viúva, só tinha grana para a marvada e para as cervejinhas de lei. E, apesar do calor do Ceará, se vestia sempre de preto, da cabeça aos pés, “para destoar da manada”, como costumava dizer para si mesmo.

Certa noite, depois de encher os chifres de pinga, Eugênio saiu de seu boteco habitual em um estado etílico particularmente elevado. Avançou trôpego pela estrada e, num trecho deserto, avistou luzes fortes imóveis, acima do solo. Concluiu de imediato, com a lógica peculiar dos bebuns, ainda que geniais:

“É um disco voador. Veio me buscar para algum simpósio intergaláctico de inteligências superiores. Nada mais justo”.

Avançou correndo na direção do OINI (objeto imóvel não identificado).

Foi o seu erro. O motorista do caminhão, que já estava pra lá de Marrakesh e detivera o veículo para acender mais um baseado da excelente erva local (não por acaso, a paródia do samba-enredo da Salgueiro, Festa para um rei negro, proclama, “Que beleza, a maconha que vem lá do Ceará”), levou um baita susto ao ver aquele vulto feio e negro vindo rápido em sua direção e acelerou com tudo. Eugênio foi atropelado e morreu na hora.

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