Curta nossa página


Oráculo ancestral

O jogo de búzios como caminho de espiritualidade e autoconhecimento

Publicado

Autor/Imagem:
Anderson Pereira Portuguez - Foto de Arquivo

O jogo de búzios, amplamente praticado em alguns segmentos de religiões afro-brasileiras, notadamente no Candomblé, é uma forma de oraculação que utiliza conchas de búzios para se comunicar com o mundo espiritual. Essa prática, rica em simbolismo e tradição, suscita pesquisas teológicas sobre a relação entre o ser humano e o divino, bem como sobre a interpretação dos sinais recebidos através dos búzios.
Neste texto, abordaremos a importância do jogo de búzios dentro do contexto religioso, suas implicações teológicas e a forma como ele reflete a busca por orientação espiritual.

Primeiramente, é fundamental compreender o jogo de búzios como uma prática ritual que que não se caracteriza como adivinhatória. Para os praticantes, os búzios são considerados mediadores entre o mundo material e o espiritual. Cada possibilidade de posicionamento das conchas ao serem lançadas sobre a mesa de oraculação, possui um significado específico e, ao serem manipuladas pelo oraculista, revelam mensagens das divindades e ancestrais. Essa interação é vista como um diálogo, onde o/a consulente busca respostas para suas questões vivenciais e dilemas cotidianos, estabelecendo uma conexão profunda com o sagrado. Assim, o jogo de búzios se torna um momento de reflexão e autoconhecimento.

Do ponto de vista teológico, o jogo de búzios levanta questionamentos sobre a natureza da revelação divina. Enquanto algumas tradições religiosas enfatizam a revelação escrita, como as escrituras sagradas, o jogo de búzios propõe uma forma de revelação vivencial, onde os sinais são interpretados no contexto da vida do consulente. Essa abordagem sugere que a comunicação com o divino pode ocorrer de diversas maneiras, não se limitando a textos ou dogmas. Portanto, o jogo de búzios amplia a compreensão sobre como os deuses, as deusas e ancestrais se manifestam na vida dos indivíduos.

Além disso, a prática do jogo de búzios também reflete a ancestralidade e a cultura afro-brasileira, que valorizam a oralidade e a tradição. Os conhecimentos transmitidos de geração para geração são fundamentais para a manutenção da identidade cultural e religiosa. Nesse sentido, os búzios não são apenas instrumentos de consulta, mas sim uma representação da memória coletiva e da sabedoria ancestral. A teologia afro-brasileira, portanto, se enriquece com a inclusão de práticas que dialogam com a história e a cultura dos povos africanos em diáspora.

No entanto, a prática do jogo de búzios também enfrentou críticas e mal-entendidos, especialmente de correntes religiosas mais conservadoras. Para muitos, a oraculação é vista como uma forma de superstição ou até mesmo como uma prática demoníaca. Essa visão ignora a profundidade espiritual e a busca sincera por respostas que os praticantes encontram no jogo. Assim, é necessário um diálogo inter-religioso que permita compreender as diversas manifestações de fé e espiritualidade, promovendo o respeito mútuo entre as tradições.

Por fim, o jogo de búzios nos convida a refletir sobre a pluralidade das experiências espirituais e a riqueza das tradições religiosas afro-brasileiras. Ele nos mostra que a busca por respostas e a conexão com o sagrado pode se dar de maneiras diversas, cada uma com seu valor e significado. Ao reconhecer a importância do jogo de búzios dentro do contexto teológico, somos chamados a uma maior abertura e compreensão das diferentes formas de se relacionar com o divino, promovendo um ambiente de respeito e diálogo entre as religiões. Assim, a prática se torna não apenas um meio de consulta, mas um verdadeiro caminho de espiritualidade e autoconhecimento.

………………………………

Babarolixá Anderson Portuguez – Membro Consultor do Colégio dos Magos e Sacerdotisas

Publicidade
Publicidade

Copyright ® 1999-2024 Notibras. Nosso conteúdo jornalístico é complementado pelos serviços da Agência Brasil, Agência Brasília, Agência Distrital, Agência UnB, assessorias de imprensa e colaboradores independentes.