José Escarlate
Um dos ministros de quem me tornei amigo foi o Severo Gomes, da Indústria e do Comércio. Eu sabia que o seu repórter preferido era o querido Ruy Lopes, das Folhas, mas o ex-ministro gostava de mim, de conversar, de contar histórias e se animava quando eu o contestava. Era uma fonte inesgotável notícias.
Severo Gomes, que adorava debater temas complicados, nasceu em 24 de julho de 1924, em São Paulo mas somente foi registrado em 8 de agosto. Tinha dois aniversários: o dia da festa e o dos telegramas pela data oficial.
Às vezes, no Planalto, ele me desafiava para um debate em relação a alguma polêmica da época. E vinha com aquele simpático “passa lá no escritório”. Era na Tecelegem Parayba, em Sampa.
Quando Geisel ia a São Paulo, eu sempre esticava a viagem e ia até a fábrica, em São José dos Campos. Almoçávamos no bandejão, junto com os operários. E tome conversa, tome polca… Aí, surgiam histórias e casos incríveis, mas tudo era dito em “off”, com a condição de nada publicar. Com água na boca, eu engolia em seco.
Geisel e Golbery gostavam muito dele, apesar de suas posições às vezes incômodas para o governo. Em um dos papos reservados ele contou que, no início do governo, Golbery teve um encontro com o Thales Ramalho e o Ulysses Guimarães – “praticamente meu irmão”- disse o ministro.
Na ocasião, Golbery explicou didaticamente como seria e defendeu com entusiasmo a abertura “lenta, gradual e segura”. “Pouco tempo depois” – adiantou Severo – “a coisa encardiu quando o Ulysses Guimarães fez aquele discurso chamando o presidente Geisel de Idi Amim branco. Isso colocou praticamente um ponto final em qualquer chance de entendimento”.