Os papagaios são conhecidos por suas notáveis habilidades cognitivas e vidas excepcionalmente longas. Em cativeiro, alguns viveram até 90 anos. O mistério de sua longevidade iludiu os cientistas por anos, mas isso parece ter finalmente sido desvendado.
Uma equipe internacional de pesquisadores descobriu que os grandes cérebros dos papagaios são a chave para sua longevidade. De acordo com um estudo publicado no Proceedings of the Royal Society B , o grande tamanho do cérebro dessas aves os ajuda a se adaptar à natureza.
Em 2018, pesquisadores da Carnegie Mellon University e da Oregon Health and Science University (EUA) realizaram uma análise genética do papagaio-de-cara-turquesa e compararam os resultados com o DNA de 30 outras espécies de aves. Eles descobriram que o DNA dos papagaios contém genes que estimulam a atividade da telomerase, uma enzima que determina o número de divisões celulares antes de morrer.
Esse processo está diretamente relacionado aos mecanismos de envelhecimento no corpo e algo que resume o segredo da imortalidade – se os telômeros forem reabastecidos para sempre, a estrutura celular dos organismos biológicos pode hipoteticamente operar para sempre.
No novo estudo, cientistas do Instituto Max Planck de Comportamento Animal (Alemanha), da Associação Europeia de Zoológicos e Aquários (Holanda), das universidades do Estado do Novo México (EUA), Sul da Dinamarca (Dinamarca), Lethbridge (Canadá) e outras organizações científicas decidiram olhar para o tempo de vida dos papagaios de um ângulo diferente.
Pesquisadores avaliaram a expectativa de vida de 133.818 papagaios de 244 espécies, usando dados de mais de mil zoológicos em todo o mundo. Eles enfrentaram uma surpreendente diversidade na expectativa de vida dessas aves, de dois anos para um papagaio do figo e até 30 anos para uma arara vermelha. 30 anos é um marco extremamente raro para pássaros desse porte atingirem, pois espécies maiores tendem a viver mais.
“Alguns indivíduos têm uma expectativa de vida máxima de mais de 80 anos, o que é uma idade respeitável mesmo para humanos. Esses valores são realmente espetaculares se você considerar que um homem humano pesa cerca de 100 vezes mais”, disse Simeon Smeele, estudante de doutorado no Max. Planck Institute of Animal Behavior (MPI-AB) e principal autor do estudo, conforme citado por Phys.org.
Os cientistas se perguntaram se as habilidades cognitivas dos papagaios afetam sua longevidade. Eles consideraram duas hipóteses. A primeira estipulava que ter um cérebro relativamente grande ajuda essas aves a viver mais : quanto mais inteligente o animal, melhor ele pode resolver os problemas que enfrenta na natureza. O segundo sugeriu que um cérebro grande leva muito tempo para crescer, e esse processo requer uma vida longa.
Os cientistas testaram ambas as hipóteses com dados e simulações disponíveis. A primeira acabou sendo verdadeira: papagaios com cérebro grande são melhores para resolver problemas que enfrentam na natureza, o que lhes permite viver mais.
“Isso apoia a ideia de que, em geral, cérebros maiores tornam as espécies mais flexíveis e permitem que elas vivam mais”, diz Smeele. “Por exemplo, se eles ficarem sem sua comida favorita, eles podem aprender a encontrar algo novo e assim sobreviver.” No futuro, a equipe pretende estudar se a sociabilidade e a capacidade de aprendizado afetam a longevidade dessas aves.