A mala
‘O que quero é pouca coisa que cabe no bolso de trás’
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emRecebeu uma mala para guardar seus pertences.
Abriu-a sobre a cama onde espalhara tudo desordenadamente. Começou a enchê-la sem planejamento. Por diversas vezes, teve que retirar tudo e tentar novamente.
A mala era pequena demais.
Pela primeira vez, parou para analisar o que tinha e o que queria ou poderia caber, ainda assim com tudo desorganizado. Enchia e esvaziava todo o tempo.
Sua luta com a quantidade de peças e o tamanho da mala foi exaustiva. Por vezes, pensou em desistir, incapaz de chegar a uma solução. Mas resiliente, sem saber o motivo, tinha que usar aquela mala.
Passado o tempo, percebeu a quantidade e o espaço entre o que pretendia guardar e o que dispunha. A realidade foi olhar o que trazia e fazer escolhas para desapegar. Não sabia definir. Tudo lhe pertencia e julgava importante. Mas a mala era uma só, não cabia.
Num estalo, percebeu a confusão. Espalhara de modo aleatório. Se juntasse as peças em conformidade ao seu uso, seria mais fácil colocá-las na mala. Assim procedeu.
Juntou as grandes, as médias e as pequenas coisas. As que perfuravam, as que poderiam ser dobradas e as que se encaixariam em espaços entre partes. Assim retomou a arrumação.
Percebeu em breve tempo que seu plano começava a dar certo.
Protegeu a base e os cantos. Dispôs as maiores embaixo. Encaixou os menores, entre os espaços deixados, protegendo a mala dos perfuradores que a destruiriam, e os cobrindo com as peças médias possíveis de dobras.
Com isso, viu-se encher sem disponibilidade para mais fardos. Satisfeito, fechou a mala e a colocou na porta da casa.
Ao puxar a maçaneta, percebeu que tudo aquilo fora desnecessário, porque para onde ele ia, não precisaria da bagagem.
Diante dele, outra mala materializou-se.
Essa, o colocou dentro e o levou.
……….
O conto “A mala” foi publicado no livro ESPALHANDO CONTOS, de Hannah Carpeso -Editora Costelas Felinas.