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O que São Genaro previu? É bom levar a coisa a sério

Recorda-se, o caro leitor, de São Genaro e de suas utópicas devotas pós modernas? Pois é… vai que o tempo passou e uma delas intuiu a vocação do amado santinho no campo das previsões.

O que São Genaro previu? Não se sabe ao certo… Hein? “Santo não é cartomante, minha gente!”.

Mas sei parte do que viu.

Porém, vale antes narrar as consequências das peripécias existenciais de São Genaro em seus diálogos com as lideranças de vários segmentos sociais. E de como tudo isso foi deixando São Genaro estressado.

A interlocutora Mãe do Ano, mas que pediu santa inspiração sobre como educar os filhos, recebeu o e-mail de autoajuda enviado por São Genaro com tanta fé que resolveu sua vida… Foi fazer pilates e arrumou um emprego. Até aí quase tudo ia bem… Para São Genaro.

A interlocutora Pesquisadora Francesa que estudava o tema da violência nas relações do trabalho, encorajada pelo santo, começou a incorporar sintomas da síndrome do pânico, dedicando-se à pesquisa, mas tendo o cuidado de não sair de casa. Isso já dificultou a santa posição ocupada em campo por Genaro.

E por fim o Renomado Ambientalista que pedia auxílio pelas ocorrências de catástrofes… Fora a gota d´água no conjunto de fatores desencadeantes da crise existencial de São Genaro e responsável por sua Síndrome de Inquietações de Tempos Pós Modernos…

São Genaro voltou a pensar em como era bom quando podia ficar no altar, incentivando os consulentes à contemplação.

O sentimento de impotência e o saudosismo foram os motes de meditação do santo, naqueles dias.

O Amado Santinho considerou que estava meio deprimido. Ponderou que passariam a apelidá-lo, displicentemente, de deprê, à revelia de ter tido a coragem de revelar o seu sintoma ao público amigo.

Na tentativa de contornar a situação, São Genaro inscreveu-se em um curso que Santo Antonio ministrava sobre bilocação.

Lembrou-se do que é bilocação? Ah… É estar em dois lugares ao mesmo tempo… Ah! Você achou que é bom fazer o curso para se preparar para jogar na bolsa de valores? Hein?

Não… Não… A bilocação que São Genaro queria utilizar era para poder estar nos locais referidos pelo solicitante de ajuda e no altar ao mesmo tempo para incentivar a contemplação. E deveria ter comportamento ético nos dois locais…

Tentemos deixar as digressões filosóficas de lado e retomemos a época em que São Genaro ainda interagia assertivamente com algumas professoras bem ativas: as Marias de San Gennaro (hoje aposentadas: passivas… ou ativas… ou hiperativas por contágio laboral). Pois ainda somos íntimas e uma delas me contou sua última consulta ao venerável santo.

Claro que interrompi o relato quase antes que iniciasse. Pois necessitei perguntar-lhe qual foi o motivo da consulta. Expliquei daquela forma: com três perguntas, lembra? Isso… Você não se aguenta? Ou você não aguenta os outros? Ou os outros não a aguentam?

A consulente: Júlia, 60 anos (esse é o primeiro campo a ser preenchido na anamnese, lembrou?)… Júlia respondeu-me que, no momento referido, precisara de assessoria na carreira de aposentada. O que quase queria dizer que acreditava se encaixar nas três hipóteses. Não se aguentava e nem aos outros e ainda de sobra os outros não a aguentavam. Tentou trabalhar em ONG, em OSCIP, por conta própria, em grupo de ASPONE, como vigilante da natureza… Mas ainda queria ser útil e participar efetivamente da vida cidadã.

Graças às lições recebidas no curso de bilocação, São Genaro pôde conferir item por item do currículo de Júlia, após a aposentadoria no emprego formal. O santo aferiu que Júlia começava sempre sorrindo e terminava tristemente. No decorrer do trabalho percebia que a prática não respondia ao ideal preconizado.

Por falta de horário extra em seu psicanalista, nesse ponto, São Genaro teve de consultar Nossa Senhora da Ajuda, recorrendo à bilocação. São Genaro, infelizmente, identificara-se com o problema trazido por Júlia. Nossa Senhora aconselhou-o a ser autêntico e abrir o jogo com a consulente. Foi o que fez Genaro.

Júlia avaliou a humanidade do santo. Até parecia ser brasileiro. Pensou… Tomou coragem e pediu-lhe dar um jeitinho… Que olhasse seu futuro.

São Genaro ainda imbuído de muita autenticidade saiu com essa:

‒ Santo não é cartomante, Júlia! E não me pergunte se pode consultar uma adivinha porque a resposta está na Bíblia (é não!). Mas atendo sempre uma cartomante que vem rezar aqui para que seus consulentes sejam perdoados e, consequentemente, seu trabalho garantido… Não espalha! ‒ segredou o venerável santo.

……….

“O que São Genaro previu” faz parte do conto “As Marias de San Gennaro”, da escritora Edna Domenica (MEROLA, E,D. Insular, 2019).

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