Entrevista/Ilma Pereira
‘O ser humano comum, normal, pode nos trazer inspirações incríveis’
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emEnquanto menino brinca de carrinho, menina de boneca, tem quem, de vestidinho, prefira ler livros infantil. Foi assim que, ainda na tenra idade, começou a despertar o sonho de escritora de Ilma Pereira.
Essa mineira de ‘Bozonte’, hoje radicada em Jaboticatubas, no interior das Gerais, professora da Língua Portuguesa, transfere para os seus escritos tudo o que lhe dá inspiração.
Aliás, inspiração é o que não falta a Ilma. Para conhecer um pouco mais sobre sua vida, leia a entrevista a seguir.
Fale um pouco sobre você, seu nome (se quiser, pode falar apenas o artístico), onde nasceu, onde mora, sobre sua trajetória como escritor.
Sou Ilma Pereira, nasci em Belo Horizonte, mas cresci no coração do interior mineiro, Jaboticatubas, onde a natureza tranquila disputava espaço com meu grande amor pelos livros. Enquanto as crianças jogavam bola ou brincavam de casinha, eu mergulhava nos livros e suas histórias. Formei-me em Letras, porque já vivia uma história de amor com a literatura desde pequena. Como professora de Língua Portuguesa em Belo Horizonte, colecionei histórias inusitadas de sala de aula, que acabaram virando meu primeiro livro, “Entre risos e sustos – Crônicas divertidas de sala de aula” (2019). E não parei por aí! Logo veio “O afilhado do capeta e outros contos” (2020), porque adoro botar um tempero nas narrativas com umas pitadas de humor, mistério e terror. Em 2020, em plena pandemia, venci um reality literário, o Best Seller’s Brasil! Dessa aventura, nasceu Perspectiva (2021), escrito em coautoria. Em 2022, lancei meu primeiro romance: “O que os quilômetros não te contaram”, e, em 2023, publiquei em e-book duas noveletas: “Maria Joaquina” e “O retorno – Sinais de um morto”. Além de escrever, dedico-me a ajudar outros escritores a melhorarem seus textos, como se fosse uma espécie de fada madrinha literária. No tempo livre, faço o que amo: curto a família, viajo e, claro, leio como se não houvesse amanhã.
Como a escrita surgiu na sua vida?
Eu era professora e sempre trabalhava um projeto de escrita com meus alunos. Todos deveriam escrever todos os dias em um caderninho e ler para a turma algo quando quisessem. Eu comecei a encher meus caderninhos também, como forma de incentivar meus alunos. Daí se tornou um hábito que dura até hoje. E, em 2019, já aposentada, lancei o primeiro livro a partir das crônicas dos caderninhos.
De onde vem a inspiração para a construção dos seus textos?
A minha maior fonte de inspiração são as pessoas e o seu fazer cotidiano. Também adoro ouvir uma boa história: o ser humano comum, normal, pode nos trazer inspirações incríveis.
Como a sua formação ou sua história de vida interferem no seu processo de escrita?
Sempre gostei de ouvir histórias. Tive sorte de ter avó, mãe, pai e irmã que gostavam de contar histórias ou relatar o que lhes havia acontecido. Paralelamente, lia tudo o que me caía nas mãos. Meu pai nos oferecia todo tipo de material para leitura: livros, revistas, jornais, dicionários, atlas, tudo geralmente usado. E minha mãe nos deixava à vontade para ler. Então, tudo isso foi formando um capital de histórias do qual até hoje me beneficio. Volta e meia, lanço mão dessa ‘poupança histórica” para compor o enredo e personagens de minhas histórias.
Quais são os seus livros favoritos?
São muitos. Vamos como Jack, o estripador, vamos por partes: a) Na infância: Histórias maravilhosas, Contos da Carochinha, As mais belas histórias, Reinações de Narizinho, poesias de Cecília Meirelles. b) Na adolescência: A ilha perdida, Capitães de Areia, Ana Terra, O Quinze, Fernão Capelo Gaivota, Cai o pano: o último caso de Hercule Poirot. c) Adulta: Memórias póstumas de Brás Cubas; As brumas de Avalon, Tuareg, A hora da estrela, poesias de Fernando Pessoa, O sol é para todos… Só para citar alguns.
Quais são seus autores favoritos?
Maria José Dupré, Cecília Meireles, Jorge Amado, Clarice Lispector, Machado de Assis, Fernando Pessoa, Conceição Evaristo, Agatha Christie, Luís Fernando Veríssimo.
O que é mais importante no seu processo de escrita? A inspiração ou a concentração? Precisa esperar pela inspiração chegar ou a escrita é um hábito constante?
Dizem que o hábito faz o monge. É fundamental ter a disciplina da escrita, porque assim a história vai surgindo naturalmente. Mas, sem dúvida, tudo começa com um momento de inspiração, é o famoso 1%. A partir daí, desse ponto de partida, eu emprego a disciplina, a concentração como forma de dar corpo àquela pequena ideia inicial.
Qual é o tema mais presente nos seus escritos? E por que você escolheu esse assunto?
Gosto de contar histórias que mexam com o leitor, que lhe desperte emoções, que o faça rir, ou se assustar, ou se emocionar. Na maioria das vezes, o tema principal são as mulheres, suas lutas, dores, vitórias e glórias. Foi um processo natural querer contar suas histórias, pois cresci cercada por muitas mulheres que, ao mesmo tempo que eram frágeis, tinham uma força extraordinária, um modo singular de encarar a vida e sua complexidade.
Para você, qual é o objetivo da literatura?
Os milhares de livros que já li me divertiram, me consolaram, me transportaram para outros mundos, me conectaram a outras pessoas e me ajudaram a entender sobre mim e o mundo onde vivo. Assim como foi para mim, os objetivos da literatura podem ser variados, mas sempre terá o poder de lembrar às pessoas que elas são únicas, mas não ilhas, que estamos conectados por nossas histórias e podemos nos ajudar.
Você está trabalhando em algum projeto neste momento?
Sim, estou na fase de pesquisa para escrever um romance voltado para o público juvenil que entrelaçará suspense, investigação e um pouquinho de terror.
Quais livros formaram quem você é hoje? O José Seabra sempre cita Camilo Castelo Branco como seu escritor predileto, o Daniel Marchi tem fascinação pelo Augusto Frederico Schmidt, e o Eduardo Martínez aponta Machado de Assis como a sua maior referência literária. Você também deve ter as suas preferências. Quem são? E há algum ou alguns escritores e poetas contemporâneos que você queira citar?
Gosto da leveza de Luís Fernando Veríssimo, da profundidade de Clarice Lispector, da fina ironia de Machado, da vida cruamente retratada por Jorge Amado… eu bebi e ainda bebo de tantas fontes! Dos contemporâneos, cito a Giovana Madalosso, Conceição Evaristo e a Ana Maria Gonçalves. Troco muitas figurinhas com autores como Joseani Vieira, Jefferson Lima, Rosângela Martins, Bruno Crispim.
Como é ser escritor hoje em dia?
Sou escritora independente, então sou como um polvo: escrevo, publico, faço vendas, distribuo, faço cursos, cuido das redes sociais, respondo leitores, etc. Mas nada me faz desanimar de escrever as histórias que só eu posso contar.
Qual a sua avalição sobre o Café Literário, a nova editoria do Notibras?
Só conheci recentemente, mas tenho acompanhado e estou gostando muito, principalmente porque estão publicando, dando visibilidade para autores independentes.
Tem alguma coisa que eu não perguntei e você gostaria de falar?
Sim. Gostaria de deixar as minhas redes sociais e convidar os leitores para lerem os escritores nacionais. Tenho certeza de que irão se surpreender.
FB: Ilma Pereira
IG: @ilmapenumo