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Ritos funerários

O silêncio dos mistérios e a morte como portal

Publicado

Autor/Imagem:
Marco Mammoli - Texto e Imagem

Nessa semana dentre vários assuntos mundanos e profanos, pois a Roda da Fortuna e da vida não para, tivemos o falecimento de Francisco I, o Papa dos católicos, grande líder espiritual que simbolizava a humildade e acolhimento sem julgamentos. A morte, etapa de quem vive, sempre nos comove e impacta. Funerais, são ritos de passagem desde tempos imemoriais. Foram criados para acompanhar o ser humano nas grandes travessias da existência: nascimento, iniciação, morte.

Na tradição alquímica, essas transições não são apenas eventos naturais, mas expressões da Obra Interior, onde o espírito é trabalhado como a pedra bruta no universo do Grande Artífice. Entre os rituais mais carregados de símbolos de transformação, poucos se comparam à preparação do enterro de um Papa. Como seria a interpretação alquímica desse funeral?

Longe de ser apenas um protocolo eclesiástico, esse cerimonial espelha, em seu desenrolar silencioso, as grandes etapas da jornada alquímica: Nigredo, Albedo, Separatio, Meditatio e Rubedo. Observe como esse rito de despedida reflete as profundas verdades ocultas da Arte Antiga.

Quando o Sumo Pontífice exala seu último suspiro, inicia-se um drama sagrado: o anúncio da morte, o chamado ritual que ecoa três vezes o nome do falecido, marca o reconhecimento do fim da jornada terrena. Este momento é o espelho da Nigredo alquímica, a fase da putrefação e da dissolução, onde tudo o que é impuro, transitório e ilusório é entregue à morte para que a essência, oculta na corrupção da matéria, possa finalmente emergir.

Segue-se então o preparo do corpo: banhado, ungido com óleos, vestido com paramentos de dignidade. Cada gesto é uma purificação, ecoando o segundo estágio da Obra, a Albedo, a iluminação da alma, a regeneração pela água e pela luz. O cadáver, agora símbolo do que transcende a carne, é devolvido à sua nobreza espiritual, como o alquimista que, tendo descido ao inferno da matéria, ressurge das águas interiores com um novo brilho.

A destruição do Anel do Pescador, insígnia do poder pontifício, não é mera formalidade: é a ruptura definitiva dos laços com o poder terreno, um eco da Separatio alquímica, onde os elementos são desagregados para que se libertem as essências puras. O Papa morto não pertence mais às estruturas do mundo; sua identidade exterior é dissolvida, e somente o mistério de sua verdadeira Obra permanece.

Durante dias a Igreja mergulha em oração e luto. Não se trata apenas de homenagear um líder, mas de acompanhar espiritualmente sua travessia. É o tempo da Meditatio, onde a consciência coletiva reflete sobre a transitoriedade da vida e a eternidade do espírito, como o alquimista que vela sua matéria em meditação silenciosa, aguardando a aurora da nova vida.

Por fim, o enterro: três caixões, três invólucros que ressoam como símbolos alquímicos — madeira, chumbo e carvalho — encerram o corpo, tal como a alma é envolta nas diferentes camadas da realidade até a libertação final. Este sepultamento não é um fim, mas uma semeadura: como na Rubedo, a última fase da Obra, onde o espírito transmutado, o Ouro Vivo, é fixado no mundo para irradiar seu poder oculto.

Assim, sem que muitos o percebam, a morte de um Papa refaz diante dos olhos do mundo a antiga jornada alquímica: morte, purificação, separação, contemplação e transfiguração. Um espelho velado da eterna arte de morrer para renascer, de dissolver-se no tempo para habitar a eternidade.

O cerimonial fúnebre do Sumo Pontífice, com seus gestos codificados e palavras sussurradas, é uma lembrança silenciosa daquilo que toda alma busca em sua jornada: a passagem do peso da terra à leveza do céu.
Na linguagem oculta da alquimia, entendemos que a morte não é ruína, mas coroação; não é término, mas culminação de uma Obra forjada no fogo do espírito.

Reconhecer, purificar, separar, meditar, fixar: estes são os cinco passos que, ocultos sob o véu do ritual, revelam a eterna dança da alma que busca, através das eras, tornar-se finalmente uno com a Luz.

E assim, mesmo sob as abóbadas de pedra do Vaticano, em meio ao incenso e aos cânticos, a Arte Secreta continua a ser celebrada — para aqueles que sabem ver.

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Marco Mammoli é Mestre Conselheiro do Colégio dos Magos e Sacerdotisas.

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