Preto no branco
O tom e o som na comunicação explicam, não se trumbicam
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emAlcançar um patamar próximo do ideal em nossa comunicação não é uma tarefa nada fácil, uma vez que se trata da manifestação de nossa personalidade na forma de sons, gestos e atitudes, envolvendo linguagem verbal e não verbal, tendo como base a espontaneidade.
Assim sendo, qual seria o diálogo ideal?
Imagina-se como sendo o diálogo ideal aquele em que os envolvidos são ponderados e se expressam claramente, em tom de voz agradável, emitindo frases pausadas e moderadas, com começo, meio e fim, e adotando alternância no tempo de argumentação entre um e outro interlocutor. A manifestação de cada parte deve ser breve, e o ouvinte precisa ter a paciência e a fineza de aguardar o seu momento de falar, de modo a evitar a interrupção da fala do outro.
No campo da entonação a fala pode assumir nuances que variam conforme nosso momento psicológico. Entretanto, existe uma característica que é marcante em cada pessoa, conforme se pode analisar nas ponderações, a seguir.
Dentre os diversos tipos característicos de falantes há os que adotam uma fala mansa, serena e agradável aos ouvidos dos seus interlocutores, todavia falam demais e monopolizam totalmente a conversa. O esperado diálogo, na verdade, acaba se transformando rapidamente em um monólogo, o que leva o ouvinte a fazer o papel de um verdadeiro “microfone”, com espaço apenas para ouvir e nenhuma chance para falar.
Em outro tipo característico de falante, pode acontecer que em certos momentos, embora se fale pouco, carrega-se a nossa conversa com termos ferinos ou contundentes em demasia, mediante a utilização de verbos ou adjetivos inadequados, o que torna nossa conversa eivada de críticas e conceitos deselegantes para quem nos ouve.
Há momentos em que assumimos um tom de voz impositivo e autoritário, como que a demonstrar que somos os legítimos donos da verdade, e ao nosso interlocutor só lhe restará aceitar a própria “pequenez”. E, para agravar, deixamos bem claro que nosso ponto de vista jamais deverá ser contestado, uma vez que “a razão está conosco”. Ofender-se e reagir à altura para encerrar o colóquio dependerá da fleuma de cada ouvinte.
Entretanto, essa reação – se acontecer – poderá gerar confronto e violência. Às vezes somos excessivamente prolixos em nossos argumentos e, sem nos apercebermos, ficamos “rodando” em torno do mesmo tema, reforçando desnecessária e repetidamente nossas definições, apesar de sua assimilação já estar mais do que configurada por quem nos ouve. Uma situação típica de “disco arranhado”, que fica trazendo de volta o mesmo trecho a todo o momento, destruindo a beleza da mensagem e gerando enfado e aborrecimento.
Em outras ocasiões, nossa fala é por demais rebuscada, recheada de termos técnicos ou conceituais, que deixam nosso interlocutor “vagando no espaço”. Mas ele acabará concordando conosco por desconhecer boa parte desses termos. Mais uma vez, o ouvinte faz um papel passivo, sem argumentos para dialogar.
Um tom de voz enfadonho e arrastado, proporcionado por uma voz muito baixa ou uma dicção deficiente, poderá ser a tônica de nossa comunicação em outras oportunidades, exigindo de quem nos ouve um esforço redobrado para tentar entender a nossa mensagem. A tendência, neste caso, será a dispersão e o alheamento do nosso ouvinte, o qual se manterá atento apenas por uma questão de respeito. Normalmente, ele evitará emitir opiniões, pelo simples fato de ter ouvido ou assimilado não mais que a metade da nossa conversa.
A ironia também poderá ser a tônica de nossa manifestação, podendo ofender a quem nos ouve, mas disso também não nos apercebemos, pois crermos ser esse o nosso “estilo”. Se questionados, é bem possível que cheguemos a ponderar: “sempre falei dessa forma, e não será agora que irei mudar”.
Ouvidos mais sensíveis tendem a sofrer muito quando são submetidos ao nosso tom exagerado, em que damos a impressão de falar às multidões, devido ao tom “gritado” de dezenas de decibéis acima, mesmo quando nosso ouvinte é apenas e simplesmente uma pessoa postada a menos de um metro de distância.
Em outras conversas, podemos carregar e repassar nosso carrossel de mágoas para o nosso ouvinte, desarmonizando-o e constrangendo-o por completo. Dane-se a sua sensibilidade! Só o que sabemos é que precisamos extravasar! Além do mais, as mágoas precisam ser “divididas” com os amigos, pensamos. No fim das contas, sem perceber, inundamos o ambiente com uma torrente de contrariedades, deixando a todos com os nervos à flor da pele. Nosso ouvinte faz de tudo para não nos contrariar, e se esforça para buscar um modo de concordar conosco e nos consolar.
Tolerância máxima!
Há, ainda, os que não conseguem conversar sem nos cutucar, beliscar nossos braços ou bater em nosso peito, querendo o máximo da nossa atenção. Não conseguem falar sem nos estapear o tempo todo, deixando-nos quase com hematomas. Um jeito estranho comunicação, que deixa o interlocutor literalmente dolorido.
Se tomarmos consciência de nossa deficiência certamente ficará a esperança de que um dia haveremos de atingir a perfeição tão almejada. O ponto principal será nos convencermos de que nossos deslizes são verdadeiros. Difícil será descobrirmos como nos livrarmos dos nossos defeitos.
É inquestionável nosso desejo de, em um futuro próximo, termos nossas conversas em tom suave, firme, claro e encantador, como quem se dirige amorosamente a um jardim florido, agradecendo-lhe pela sua beleza, suavidade e perfume.
Quem sabe nossas conversas possam vir a ser plenas de proposições agradáveis e informações aceitáveis; o nosso tom ser vibrante e atraente tal qual mantras inefáveis; nossa voz ser o bálsamo curador para os ouvidos mais sensíveis, que de nós se aproximarão para acalmar o espírito, preencher seus vazios, alentar sofrimentos, atenuar decepções e inebriar a alma.
Essa, então, será a comunicação ideal.