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Lá como cá

Objetivo do político é derrotar adversário e não o de governar

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Autor/Imagem:
João Moura* - Foto de Arquivo

Analisando o capitalismo progressista americano para uma era de descontentamento – principalmente com os juros, observamos que, a era contemporânea da política americana está marcada por uma crescente polarização eleitoral, refletindo tensões profundas entre diferentes segmentos da sociedade. Essa divisão não é apenas ideológica, mas também geográfica, demográfica e cultural, criando um cenário complexo onde o diálogo político se torna cada vez mais difícil. Neste contexto, entender a relação entre povo, poder e política é crucial para analisar as dinâmicas que moldam a democracia nos Estados Unidos.

O viés da observação da anatomia de governos e sociedades, de hoje, também está relacionado com a noção de que a tentativa de assassinato deste fim de semana do ex-presidente Trump aumentou as suas chances de vencer as eleições em novembro. Trump é considerado por muitos um candidato mais favorável ao mercado devido, em parte, ao seu objetivo de desregulamentação e redução das taxas de imposto sobre as sociedades.

Porém, o povo americano, historicamente visto como uma força unificadora na democracia, encontra-se cada vez mais dividido. As diferenças nas percepções sobre questões cruciais como imigração, justiça social, economia e direitos civis estão mais acentuadas do que nunca. A segmentação dos eleitores em grupos bem definidos, muitas vezes com base em identidades raciais, religiosas ou regionais, exacerba essa polarização. Esse fenômeno é alimentado pelas mídias sociais e pelos meios de comunicação, que frequentemente reforçam narrativas de conflito em vez de promoverem um entendimento comum.

O poder político, nesse ambiente polarizado, tende a se concentrar em figuras e movimentos que conseguem mobilizar essas divisões. Líderes políticos e partidos adaptam suas estratégias para atender às demandas de suas bases mais fervorosas, frequentemente em detrimento do compromisso e da moderação. Essa dinâmica cria um ciclo vicioso onde o discurso radicalizado é recompensado, enquanto vozes moderadas e conciliatórias são marginalizadas. Como resultado, as instituições democráticas enfrentam desafios para funcionar de maneira eficaz e inclusiva.

A política, como arena de disputa e negociação, reflete e amplifica essas divisões. As campanhas eleitorais se tornam batalhas intensas onde o objetivo é mais derrotar o adversário do que governar de maneira colaborativa. A confiança nas instituições, como o Congresso e o sistema judiciário, está em declínio, e a legitimidade dos processos eleitorais é constantemente questionada. Esse cenário cria um ambiente de incerteza e desconfiança, onde soluções de longo prazo para problemas complexos são frequentemente sacrificadas por ganhos políticos de curto prazo.

Para enfrentar essa era de polarização, é essencial promover uma cultura política que valorize o diálogo e o compromisso. Isso inclui reformar os sistemas de votação e representação para garantir maior inclusão e equidade, incentivar a educação cívica que promova o entendimento mútuo e fortalecer as instituições que mediam conflitos e promovem a justiça. Somente através de um esforço consciente para superar as divisões será possível construir uma democracia mais resiliente e representativa, capaz de enfrentar os desafios do século XXI.

Em suma, a relação entre povo, poder e política nos EUA está profundamente impactada pela polarização eleitoral. Essa realidade desafia a capacidade do país de governar de maneira eficaz e inclusiva, exigindo uma renovação dos valores democráticos e das práticas políticas. A construção de uma sociedade mais unida e democrática dependerá da capacidade de superar essas divisões e de promover um ambiente onde o diálogo e o compromisso prevaleçam sobre o conflito e a divisão.

*João Moura é professor e filósofo, observador da anatomia de governos e sociedade.

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