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A obra eterna de Callado, que estaria fazendo 100 anos

Paulo Virgílio

O ano de 2017 marca o centenário de Antonio Callado, um dos mais importantes escritores brasileiros da segunda metade do século 20. Nascido em 26 de janeiro de 1917, em Niterói (RJ), Callado foi romancista, dramaturgo e jornalista. Ele deixou uma obra literária que tem como pano de fundo, principalmente, o clima político vivido pelo país nos anos que antecederam e durante o regime militar brasileiro.

Guardiã do acervo do escritor, a Fundação Casa de Rui Barbosa realizou na última quinta-feira (26), dia do centenário, um encontro que reuniu escritores e pesquisadores da obra de Antonio Callado. O ponto central do debate foi o livro mais conhecido do escritor, Quarup, lançado em 1967, um ano antes da decretação do Ato Institucional 5 (AI-5), que deu início ao período mais repressivo da ditadura militar.

“Quando você vê o que ele fez antes, tudo vai de uma certa forma caminhando em direção a Quarup, em 1967. Tinha todo um cenário político na época que estimulou Callado a escrever o livro, mas também toda a bagagem que ele trazia”, disse o professor de Filosofia e Letras, Eduardo Jardim, para quem o livro é o ponto alto da produção de Callado. “Os romances que ele escreveu depois de uma certa forma estão sempre retornando aos assuntos que ele tratou em Quarup”, acrescentou.

O livro conta a história de um padre que termina por abandonar a batina e entrar na luta armada contra o regime militar. Bar Don Juan (1971) e Reflexos do Baile (1976), obras seguintes de Callado, também têm os acontecimentos políticos como cenário.

Autor do livro A história foi assim: o romance político brasileiro nos anos 70-80, Alcmeno Bastos disse que a obra de Callado tinha a capacidade de captar a movimentação do seu tempo. “É como um sismógrafo, que capta essas oscilações, mesmo as mais tênues”, acentuou.

Ainda em comemoração ao centenário, a jornalista Ana Arruda Callado, viúva do escritor, está organizando um livro que reúne as crônicas dele para os jornais, com lançamento previsto para março. “As crônicas são muito amargas, eu diria. Mas não totalmente, porque Callado sabia temperar as coisas. Ele falava das coisas sombrias, mas sempre com uma pitadinha de humor”, disse.

Callado será homenageado também com um seminário na Universidade de Oxford , na Inglaterra, no dia 4 de fevereiro. Ao todo ele escreveu nove romances, todos tendo como tema a realidade política e social do Brasil nas décadas de 50 a 70. Sua obra compreende ainda seis livros de reportagem (um deles póstumo), sete peças de teatro, um livro de contos e uma biografia, além de uma letra de samba.

Eleito em 1994 para a Academia Brasileira de Letras (ABL), Antonio Callado morreu três anos depois, em 1997, aos 80 anos.

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