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Odebrecht usava Caixa 2 ‘para não dar muito na cara’

Ricardo Brandt, Julia Affonso, Luiz Vassallo e Breno Pires

O executivo Luiz Eduardo da Rocha Soares disse em delação premiada que a Odebrecht evitava a realização de pagamentos lícitos, por isso elegia a via do caixa 2 e da propina para satisfazer políticos e partidos. Em um dos depoimentos à força-tarefa da Procuradoria-Geral da República, tranquilamente ele explicou. “Primeiro que não gostávamos de fazer muitos pagamentos lícitos, porque chamava muito a atenção.”

“Por exemplo, se a gente fosse pagar tudo da forma lícita daria 100 milhões de dólares em doações eleitorais da Odebrecht”, disse, referindo-se às eleições de 2010. “Em 2010 acho que foram 50 milhões de reais, então é pouco.”

“É pouco?”, questionou um procurador.

“É pouco, é pouco”, respondeu o delator.

Neste relato, Luiz Eduardo da Rocha Soares abordou exclusivamente a rotina de apoio a pagamentos lícitos e ilícitos nas campanhas eleitorais de 2006, 2008, 2010 e 2012. Da eleição de 2014 – reeleição de Dilma – ele não participou, segundo afirmou, porque a Lava Jato já estava na rua.

“Logo que nós assumimos essa área, Hilberto (Mascarenhas, chefão do Departamento de Propinas da empreiteira) e eu, essa área de operações estruturadas, tivemos que apoiar toda parte de pagamento a campanhas eleitorais e apoiar o Benedicto Júnior (o ‘BJ’) para fazer isso.”

Segundo o executivo, o Grupo decidiu escalar “um coordenador nesse negócio”.

“Como a empresa é altamente descentralizada, várias pessoas poderiam ter contato com os mesmos políticos. Então, tudo era centralizado, tudo em uma pessoa só, a Infraestrutura. O Benedicto Júnior pediu meu apoio para apoiá-lo tanto no controle de pagamento de coisas de doações lícitas como as ilícitas também.”

Luiz Eduardo, sob compromisso de “dizer a verdade” – conforme o Acordo de Colaboração Premiada que assinou – entregou aos procuradores uma planilha de controle de desembolsos. “Fizemos diversos tipos de planilhas. Eu fazia o acompanhamento. Nos primeiros momentos a gente usava muito codinome estranho, assim tipo ‘capitão’, ‘tenente’, ‘sargentos’ e ‘cabos’.”

Indagado sobre quem fazia os pagamentos lícitos, o executivo informou. “Era a tesouraria corporativa da empresa. Eu controlava e coordenava tudo. O Benedicto Júnior me falava quais pagamentos era para serem feitos. Eu solicitava para a tesouraria corporativa da empresa. Como se fosse uma pessoa cuidando da parte de eleição, doações eleitorais é com o Luiz Eduardo.”

Ele disse que ‘BJ’ o comunicava sobre quais partidos e políticos iriam receber. “Eu providenciava o pagamento dessas doações. Tinha planilhas. Doações para partidos e candidatos. Aí é que está, nós nunca pagávamos os candidatos diretamente, a gente só gostava de pagar o Diretório Nacional, daí o Diretório Nacional tinha que mandar para quem de direito.”

Luiz Eduardo contou que fazia os contatos com os políticos, informando sobre a doação que estava sendo mandada para o Diretório Nacional.

No caso de eleição de vereador e prefeito, os repasses eram feitos para os Diretórios Municipais.

Sobre a planilha que entregou aos procuradores, referente a este tema específico, o delator garantiu a autenticidade do documento “Planilha da época (dos lançamentos de valores). Em arquivo eletrônico.”

O procurador indagou. “Se a gente colocar em perícia vai dizer que foi criado em tal dia, lá atrás? Não foi modificado?”

“Não, não tinha como fazer agora.”

“Estava guardado no sistema?”, insistiu o procurador.

“(esta cópia) Estava fora, mas está no sistema também.”

Sobre o cotidiano de pagamentos ilícitos ele explicou. “Vou te dar um exemplo. Tinha o LE, líder empresarial, e vários diretores, o Sérgio Neves, de Minas, o Leandro Azevedo, do Rio, cada um fazia a sua planilha com os codinomes. A gente se reunia com os codinomes para quem a gente ia pagar, de que forma ia pagar, e saíamos fazendo os pagamentos durante o ano eleitoral ”

Ele contou que “não tinha esse poder” de decidir sobre o que era pagamento lícito do ilícito. “Vinha ordem para pagar, de uma forma ou de outra. É claro que o meu trabalho, logicamente, era executar e fazer a administração da falta. Então, quanto nós demos de dinheiro? Dessa forma quanto temos de dinheiro? Eu sugeria ‘estamos pagando muito através dessa empresa, temos um limite de dois por cento sobre o faturamento, não vamos mais pagar com essa empresa, vamos por aquela’. Nisso eu ajudava.”

Os investigadores insistiram com o delator sobre as alcunhas lançadas nas planilhas de propinas. “No começo a gente fazia até uma brincadeira. Se era o centroavante era o presidente, ou o capitão era o presidente, tenente o governador, sargento deputado federal e cabo deputado estadual, só para separar um pouquinho.”

Ele traduziu alguns codinomes. “‘Próximus’ é Sérgio Cabral, ‘Mineirinho’ é Aécio Neves, ‘Nervosinho’ é Eduardo Paes, ‘Vizinho’ é o José Serra, Humberto Costa é o ‘Drácula’, Campari é o Gim Argello, ‘Ferrari’ o Delcídio Amaral.”

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