De acordo com a cultura popular, o brasileiro é um povo que precisa ser estudado pela Nasa. Embora tenhamos criatividade de sobra, essa não é uma verdade absoluta. Nos dias de hoje, a necessidade de que sejamos analisados é real. Só que, em lugar de uma junta de cientistas para avaliar nossas gambiarras, talvez precisemos de uma junta de psiquiatras renomados e capazes de, com toda isenção possível, informar à turma da soberba e da segregação ideológica que o problema não é sentir ódio ou raiva de alguém, mas o que os que disseminam esses sentimentos farão com eles.
Sei que estou dando murro em ponta de faca. Também sei que a mulher, a TV e o carro do vizinho são melhores do que os meus. É por isso que, às vezes, prefiro destilar eventuais ódios no silêncio do meu silêncio. O grito incomoda mais a mim do que a quem o ouve. Nessas muitas vezes em que paro e penso, consigo entender que o ódio é um veneno que se toma na esperança de que o outro morra. Fujo das reflexões, mas quando as alcanço não há como fugir do pior dos cenários para um ser humano que, quer queiram ou não, está condenado a viver em sociedade. Estamos mais próximos do que nunca da selvageria generalizada.
Seria algo como um show de horrores? Acho que mais sangrento. Como perdemos o senso da vitória e da derrota, deixamos de ter expectativa antes da realidade. Como meninos mimados, ou ganhamos aquilo ou lutaremos até a morte para ganharmos aquilo. É o que, infelizmente, vem ocorrendo no Brasil. E não excluo nenhum dos dois lados de antagonismo mais ferrenho, ainda que, reconhecidamente, um deles seja infinitamente mais raivoso. Triste, mas se incomodar com a vitória e com o sucesso alheios é passar recibo de que o ódio nada mais é do que a consequência da inveja e da incapacidade de produzir coisas boas. O invejoso não quer ter o que você tem. Ele só quer que você também não tenha.
O ataque de um imbecil recalcado ao escritor Marcelo Rubens Paiva é a prova disso. Independentemente de onde venha e para que clube ou partido torça, Marcelo é um autor de prestígio internacional. Baseado em seu livro, o filme Ainda estou aqui foi indicado a três prêmios do Oscar. É pouco? Não! Mas é muito para os covardes, pobres de espírito e medíocres. São esses que, disfarçados de pessoas de bem, atingem orgasmos múltiplos quando atacam o oponente vencedor. Estultos por natureza, eles se imaginam “vingando” o sucesso que nunca terão. São os mesmos que tentaram derrubar um presidente eleito e torcem nas redes sociais pela morte do “comunista” papa Francisco. E normalmente agem em nome de Deus.
São os falsos profetas do hipotético patriotismo. Sem margem de erro, desses eu não tenho medo, mas nojo. Uma pena, mas o sentimento de indiferença passa, o ódio passa, a vingança passa, mas experimentem pegar nojo. O mais nojento entre os soberbos, arrogantes, intolerantes e que não aceitam outras formas de pensar são os que se escoram nos discursos religiosos desrespeitosos e travestidos de espiritualidade. Antes que reajam, vale registrar que a diferença entre religiosidade e espiritualidade equivale à diferença entre usar óculos ou lentes de contato. A primeira sempre será acompanhada de armação.
Desgraçadamente, vivemos em um país onde a estupidez é ouvida, a inteligência ignorada, a educação saiu de moda e discurso de ódio virou opinião. No Brasil, são milhões os que se encaixam nesses perfis. Entretanto, há um único nome, sobrenome e CPF incrustado no perfil da falsa bondade, que, no fim e ao cabo, é o lado mais nojento da maldade. Quem? Quem? Quem? Ele mesmo. Aquele que, com seu jeito desrespeitoso de fazer política, parece invejar o brilho que não consegue apagar naquele que também não conseguiu apagar fisicamente. Como aprendi a entender as pessoas mais pelo silêncio do que pelas palavras, cresci e envelheci ensinando que ninguém deve esperar grandes coisas de pessoas pequenas.
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*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978