Agosto começou na segunda-feira (1º.) e deve fazer jus à fama de mês de desgosto para algumas famílias brasileiras, principalmente para aquelas que não são merecedoras da primavera. No mundo, as temperaturas estão matando e levantando poeiras que pareciam adormecidas há anos. Joe Biden e Xi Jinping precisam se convencer de que o céu não permite mais cogumelos assassinos, tampouco redemoinhos acinzentados, cuja passagem deixa apenas rastros de destruição. No Brasil, o inverno acanhado enlouqueceu pessoas destemperadas e avermelhou de vez algumas folhas deixadas pelo outono que ainda não se assentou. Talvez não queiramos perceber, mas o planeta está de ponta cabeça.
E ninguém faz nada para que volte a seu curso normal. A briga pelo poder acima de qualquer coisa é a prova real de que a estultícia humana não tem limites. Perdemos a consciência e os parâmetros. Hoje, o pêndulo da mente oscila entre o sentido e o absurdo. O certo e o errado ficaram para trás. Depois de anos de Guerra Fria, eis que uma desnecessária viagem requenta a beligerância entre norte-americanos e russos e norte-americanos e chineses. Por aqui, o clima de fervura já ultrapassou as ruas e os palanques. Chegou aos lares, dividindo famílias e ajudando a desacreditar irmãos e cônjuges.
Esquecendo que precisam de tão pouco para que sejam felizes, seres humanos comuns e mandatários de pequenas, médias e grandes nações se acham superiores e mais inteligentes do que seus semelhantes ou do que seus comandados. É claro que necessitamos de muita experiência para compreendermos isso. No entanto, causa espécie o fato de que giramos, sofremos e não conseguimos sair do lugar. Parece uma preparação diária para a guerra. E é. Pelo menos no Brasil do mito, onde o crescente ambiente de ódio na política do país degenerou para a raiva pessoal e, o que é pior, para os ataques contra a vida de quem é opositor. Por aqui, a viagem é pelo poder a qualquer preço.
Com apoio aberto do presidente da República, extremistas à direita e à esquerda se armam em tempo integral para uma batalha campal que se avizinha. Talvez ocorra no dia 7 de setembro. É a aposta no caos, na tragédia, no fim das instituições, consequentemente no fim do Brasil como nação ordeira, solidária e acreditada. Se é a tragédia que buscam, certamente será a tragédia a herança de nossos filhos e netos. Gostaria que estar errado, mas tenho certeza de que não estou. As campanhas contra a pandemia e, depois, contra a vacinação foram um grande exemplo da ausência total de solidariedade com o próximo.
Perdão pelo sincericídio, mas, felizmente, muitos insensíveis que desacreditaram da doença passaram para o mundo dos pés juntos. Quantos compatriotas acreditam que centenas (?) de pessoas continuam morrendo de fome nos quatro cantos do país? Muitos, mas não todos. Expressiva parcela goza da fome. Não tenho certeza, mas provavelmente esse pessoal, inchado pela multidão que mantém o Pavilhão Nacional amarrado em seus automóveis ou pendurado nas janelas e varandas de suas moradias, goza com ou na fome.
Lamento pelo agosto no mundo e pelo desgosto dos terráqueos. Todavia, como brasileiro minha preocupação é com a fronteira. Piada nós já somos. Ou abrimos o olho ou corremos o risco de virar deboche internacional. Lembremos que nada é tão ruim que não possa piorar. Já dizia o polímata Rui Barbosa que a maior tristeza de não haver vencido é a vergonha de não ter lutado. Então, fica o convite. Lutemos contra os desmandos e contra a vilania, convictos de que a força do direito supera o direito da força. Mais uma vez rebuscando o jurista Rui Barbosa, aguardemos o tempo, confiando na palavra, que é o instrumento irresistível da conquista da liberdade. Que as lutas sejam esquecidas e que a alegria volte a fazer morada no coração do povo brasileiro.