Maracatu no Recife
Ogum Onelê faz a festa no Pátio de São Pedro
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emO Maracatu Ogum Onilê é uma manifestação cultural que carrega consigo a força e a ancestralidade do povo negro, e ao presenciar sua apresentação no Pátio de São Pedro, no coração de Recife, é impossível não se deixar envolver pelo misticismo e pela energia vibrante que emana de cada toque de tambor, de cada passo ritmado e de cada canto entoado. O prazer já começa durante o ensaio, sob a sobra de velhos casãrões que serviam para a comercialização de escravos no Brasil Império.
O Pátio de São Pedro, com suas pedras seculares e casarios coloridos, serve como um cenário perfeito para essa expressão de resistência e identidade. O espaço, que já foi palco de tantas histórias, torna-se mais uma vez um santuário onde a cultura afro-brasileira se encontra e se renova.
Na noite em que o Ogum Onilê se apresentou, o céu recifense parecia conspirar a favor do evento. Uma leve brisa soprava, e as luzes amarelas dos postes criavam um contraste mágico com as cores vibrantes das vestes dos maracatuzeiros. A alfaia, com seu som grave e profundo, marcava o compasso da apresentação, enquanto os agogôs e ganzás, com seus sons mais agudos, traziam a harmonia necessária para que o conjunto ressoasse como um único corpo.
Os cantos, muitas vezes em iorubá, reverenciavam os orixás, em especial Ogum, o senhor da guerra e do ferro, cujo nome é exaltado pelo grupo. Cada verso entoado era uma invocação, uma conexão direta com o sagrado, que parecia descer e se manifestar ali, no meio do Pátio. As dançarinas, com seus movimentos ora delicados, ora vigorosos, contavam histórias com o corpo, representando batalhas, celebrações e ritos de passagem.
O público, em sua maioria moradores do Recife, mas também turistas encantados pela cultura local, assistia a tudo em silêncio respeitoso, como se compreendesse a profundidade do que estava sendo vivido ali. Alguns, mais familiarizados com o maracatu, arriscavam passos tímidos, tentando acompanhar o ritmo hipnotizante.
Ao final da apresentação, era impossível não sentir uma mistura de emoções. A euforia de ter presenciado algo tão belo e autêntico se mesclava à reflexão sobre a importância de manter viva essa tradição. O Maracatu Ogum Onilê não é apenas uma expressão artística; é um grito de resistência, uma afirmação de identidade, e no Pátio de São Pedro, essa mensagem ecoou alto e claro, como uma batida de tambor que nunca cessa, mesmo depois do último toque.