Não raro, alguém me pergunta há quanto tempo sou escritor. E, nesses momentos, gosto de contar uma passagem que tive nos meus longínquos tempos como estudante de jornalismo, quando uma professora pediu para que todos os alunos escrevessem um texto. Fui o primeiro a entregar e, quando já havia retornado à minha carteira, eis que a professora me chamou.
— Você é escritor, né?
— Sempre gostei de escrever.
— Percebi. Mas o que você escreve? Livros, matérias para jornal e revistas?
— Cartas. Desde menino adoro escrever cartas.
A mulher me encarou e torceu os lábios. Em seguida, me mandou retornar ao meu lugar. Voltei com a sensação de que a havia decepcionado. Como assim? Cartas? Grande coisa! Que porcaria! Obviamente que ela não me disse tais palavras, mas senti que era justamente isso que aquele olhar deu a entender.
Levei anos para constatar que não passo de um escritor de cartas. Todavia, não vejo isso com desprezo, mesmo porque, hoje estou certo disso, o grande Machado de Assis jamais desejou escrever para milhões de leitores. Ele dirigia sua pena a uma única pessoa, seja um amigo, um conhecido ou mesmo aquele amor escondido. Não importa, pois o mais imortal dos imortais precisava cativar o destinatário.
Estou louco? Talvez, mas repare que, quando está lendo algo, parece que aquilo foi escrito justamente para você. Essa é a capacidade que nós, meros escritores de cartas, temos de entreter o leitor. Por isso, meu amigo que gosta de escrever, deixe de lado qualquer hesitação e trate de retirar aquela carta do fundo da gaveta e a envie logo. Um texto engavetado é apenas um monte de palavras num pedaço de papel. Quando lido, ele ganha o mundo.