Notibras

Olhar de Aninha faz Arnaldo soltar um ‘Sim, senhora’ silencioso

Arnaldo, que nem os homens costumam fazer, gostava de demonstrar força, masculinidade alimentada por tanta testosterona. Que nada! Tudo fachada, facilmente desmascarada pelas lamúrias ao menor sinal de dificuldade.

Aninha, quase 20 centímetros mais baixa, metade do peso do marido, além da jornada tripla, cuidava do Bob, o cachorrinho que os filhos, Larissa e Bernardo, tanto imploraram para que o avô comprasse. O velho atendeu ao pedido, mas com a promessa de que os netos tomassem conta do filhote. Promessas vazias, que acabaram cumpridas pela mãe das crianças, que ganhou a simpatia do animal. Bob, agora, era todo chamego pro seu lado.

Mal chegava do emprego, a mulher retirava os potes de comida do congelador. E lá estava o Bob, todo serelepe, em busca de cafuné. Aninha, com um sorriso nos lábios, fazia as vontades do filho mais novo, que abanava ainda mais o rabo. Quanta felicidade naquela bolinha de pelos!

Mesa pronta, a família se reunia em volta. Apenas o som dos talheres, até que, finalmente, a última garfada e o derradeiro gole do suco de laranja, que há pouco fora espremido pelas mãos firmes da mulher. Nem precisou mandar as crianças recolherem tudo. Lavaram sem esboçar discórdia.

Aninha, que se preparava para tomar aquele banho para ir se deitar, percebeu que a lixeira estava abarrotada. De tão cheia, a tampa tombava para o lado.

— Arnaldo, você se esqueceu de jogar o lixo fora.

— Aninha, minha flor, não vê que tô com a cabeça explodindo de dor? Hoje tive um dia cheio no trabalho.

— E daí? E desde quando você usa a cabeça para fazer alguma coisa? Além do mais, basta usar as mãos pra colocar o lixo fora.

— Mas, meu amor, sou uma pessoa completa e não apenas mãos.

Nenhuma palavra da esposa. Bastou um olhar. Arnaldo tratou de engolir as lamúrias e foi jogar o lixo fora. O homem bem sabia quem é que mandava naquele lar, doce lar.

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