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Brasil insalubre

Onde há fumaça, há fogo, há o homem e ganância do agro

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Júnior - Foto Paulo Pinto/ABr

No Brasil da polarização, principalmente no BraZil, tudo é possível, inclusive incendiar ideológica e fisicamente o país para ver no que vai dar. Pode ser mais uma de minhas exageradas desconfianças a respeito do ser humano. Penso, repenso e, no fundo, tenho poucas ou nenhuma dúvida sobre a capacidade do homo sapiens em acabar com o mundo ou com o local onde vive somente pelo prazer de ferir quem lhe venceu ou quem lhe aplicou uma lição indesejada. Por isso, pedindo desculpas antecipadas por eventuais ilações, nada me convence de que a mão do homem mais uma vez não está por trás das recorrentes queimadas que têm assustado os brasileiros.

Os dias não são mais os mesmos no país da alegria, do verde das florestas e do azul do mar. Definitivamente, o melhor do Brasil deixou de ser os brasileiros. O céu, a mente, os interesses e os corações de boa parte da população hoje não passam de folclore, de vários tons de cinza. Atualmente, o odor das queimadas são os óculos com os quais passei a enxergar a vida. Através da opacidade de minhas lentes, é fácil perceber que onde há fumaça, há fogo e há homem. Pior é que onde há fogo, há alguém interessado em aumentar os hectares de suas pastagens ou de suas plantações de soja, milho, café, feijão e arroz para exportação.

Falo em ilações porque não disponho de provas concretas de que, ainda que não seja o principal responsável, o agronegócio é omisso em relação aos incêndios registrados nas últimas semanas. Notório é que, junto da destruição da nação, as queimadas vêm causando sérios e irreparáveis danos à imagem do agro brasileiro. Criminosos, involuntários ou “atípicos”, o fato é que as cidades brasileiras estão cobertas por fumaça. Imbróglio da alçada da Polícia Federal, minhas desconfianças são absolutamente naturais. Considerando que a época não é de raios, como explicar que em uma semana, praticamente em dois dias, várias cidades de Norte a Sul “queimaram” ao mesmo tempo?

O improvável virou algo palpável no país das maravilhas. O fog londrino tomou conta das cinco regiões do Brasil. Sinônimo de ganância, o fog do Terceiro Mundo é aceso quase diariamente pelos fazendeiros que dormem e acordam sonhando em aumentar a produção. O povo que se afogue no rio de lágrimas decorrentes da insalubridade gerada pelos amados, idolatrados e bolsonarizados senhores do agronegócio, entre eles numerosos homens públicos. Obviamente que não são todos. Os poucos sérios também devem estar sofrendo, pois, ao contrário do que afirmam os abutres dos poderes político e econômico, as queimadas não derivam exclusivamente de intempéries climáticas.

É o homem trabalhando para dizimar com o homem. Exatamente como previu o médico, astrólogo e vidente francês Michel de Nortredame, latinizado como Nostradamus. No livro Les Prophéties (As profecias), publicado em 1555, Nostradamus previu para este ano de 2024 grandes inundações, além de terra seca em todo o planeta. Ou seja, as cidades brasileiras pegando fogo não são um problema meramente da temporada de clima seco. Por isso, antes que apaguem a fumaça de nossas vidas, apaguemos nossos tições. Acreditemos ou não em quem nunca errou uma previsão, é preciso que deixemos de lado os interesses, a ideologia política e a polarização idiota e pensemos em nos unir pela nossa sobrevivência.

Diante dos dias de nocividade e de futuro incerto, a expressão acordar para a vida nunca foi tão importante como agora. Aqueles que querem continuar vivendo com saúde precisam agir rápido. Independentemente dos governantes e de nossos parlamentares corruptos e incapazes, ou nos unimos ou morremos todos. Os verdes campos do lugar não existem mais. O Brasil dos sonhos está virando pau e pedra. “É um resto de toco, tombo da ribanceira, é o fim do caminho”. Quero de novo poder “plantar e colher com a mão a pimenta e o sal”. Sonho com o dia em que a esperança volte a ser os óculos com os quais sempre enxerguei a vida. E que a fumaça retome seu espaço único de sinal de comunicação entre povos remotos e deixe de ser uma cortina para esconder o mau-caratismo de fazendeiros criminosos que um dia certamente irão arder no fogo do inferno.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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