Esquerda dorme de touca
Ônibus de graça para o povo pode levar Ibaneis ao Palácio do Planalto
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Os conservadores e autoritários, na democracia tupiniquim, como dizia o protofascista ex-governador ACM, da Bahia, usa o governo como os mestres do violino: ajeita ele com a esquerda e toca com a direita. É o caso do que está acontecendo no Distrito Federal com possibilidade de ampla repercussão em todo o país, como mote eleitoral para 2026.
O governador Ibaneis Rocha, direita pró-Bolsonaro de carteirinha, age como a raposa que invade o galinheiro diante da porta aberta, para saborear as galinhas indefesas.
Ibaneis, advogado rico e consagrado, que está vendo longe, joga com vara de dois bicos: pode ser candidato ao Senado, pelo MDB, mas, também, aposta na possibilidade de ser a arma do partido para disputar o Planalto em 2026.
Sua proposição de garantir transporte grátis para toda população do DF ganha corações e mentes e embala direita e ultradireita com discurso popular.
Inicialmente, ele jogou como isca transporte grátis.Como a repercussão está sendo bombástica, seus correligionários já antecipam que ela seria a bandeira dele para o país, caso venha a ser candidato.
Como qualquer governante que toca a administração pública, Ibaneis Rocha sabe que o argumento de que o governo não tem dinheiro para bancar proposta popular dessa natureza é conversa mole.
O dinheiro existe e é farto, basta exercitar as prioridades políticas, voltadas para o interesse público, deixando de lado os privilégios da minoria, especialmente, a que compõe o mercado financeiro.
Os números não mentem e deixam tudo claro.
Do total do orçamento geral da União de R$ 4,63 trilhões, realizado e pago em 2023, R$ 1,89 trilhão destina-se ao pagamento de juros e amortizações da dívida pública, ou seja, 43,23%, segundo a Auditoria Cidadã da Dívida.
Trata-se de volume de recursos que escorre pelo ralo, não contribui em nada para o desenvolvimento econômico sustentável, enquanto o restante, R$ 2,74 trilhões está sujeito ao ajuste fiscal e monetário imposto de BC, juros abusivos, Selic de 13,25% ao ano para uma inflação de 4,8%.
Para atender as demandas sociais, o ajuste fiscal não recai sobre o orçamento financeiro(R$ 1,89 trilhão), mas sobre o orçamento que comanda a vida real da população(R$ 2,74 trilhões).
Dessa forma, faltam recursos, de forma generalizada, para o governo tocar a administração pública, dada a necessidade de encaminhar quase 40% do total do orçamento para a tirania financeira vigente, que inviabiliza a governabilidade efetiva.
O que Ibaneis Rocha está enxergando?
Que o dinheiro existe e sobra, podendo uma parte dele bancar as demandas sociais por transporte de qualidade e gratuito, e muito mais.
Seria essa ou não bandeira da esquerda, que está no poder e pretende conduzir o presidente Lula para a reeleição em 2026?
Ela, no entanto, tornou-se prisioneira do arcabouço neoliberal.
Por isso, deixa um espaço enorme para a direita trabalhar e nadar de braçada, enquanto o discurso oficial se centra em economizar despesas para pagar juros da dívida pública, que consome metade do orçamento geral da União.
Ibaneis sabe que Bolsonaro, inelegível, pode ser condenado pelo STF, que, como declarou o ministro Gilmar Mendes, demonstrando ansiedade, está pronto para iniciar o julgamento dele.
Se isso acontecer ainda neste primeiro semestre, as chances para surgimento de candidatos sucessores de Bolsonaro na preferência popular surgirão aos montões, a depender de propostas que empolguem o eleitorado.
Há, no momento em que a população padece de arrocho salarial, proveniente das reformas neoliberais, deteriorando seu poder de compra diante da inflação incontrolável de alimentos, proposta mais atrativa do que o transporte público grátis?
Eleva imediatamente o poder de compra dos assalariados.
Enquanto a palavra de ordem oficial for déficit orçamentário zero, que inviabiliza as demandas sociais, como esta que propõe o governador do DF, de modo a garantir o privilégio só para a Faria Lima, a direita estará livre para fazer proposições que colocam a esquerda em sinuca de bico, dormindo de touca.
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Matéria alterada às 22h03 para correção de informação