Curta nossa página


De Campina para Tambaú

Onofre, o machão neurótico, conta o que não precisa

Publicado

Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Produção Irene Araújo

Onofre, típico machão, desde sempre fora a inconveniência em pessoa. Dava em cima de qualquer rabo de saia. Se bobeasse, lá ia o homem com aquela lábia sem-noção para cima, mesmo que fosse mulher casada.

No mesmo ambiente de trabalho de sempre, e depois de jogar sua tarrafa machista para todos os cantos, dizem que só a Ritinha caiu na conversa sem-futuro do sujeito. Tanto é que, grávida, obrigou o gajo a casar ou, então, o pai, tipo bruto lá pelos lados de Campina Grande, logo apareceria com uma peixeira na mão.

A mulher, após alguns anos de casório, constatou que o marido era um traste. Não valia nem sequer a deitada maldormida. Que Onofre fosse arrumar outra para lavar suas cuecas! Sem maiores expectativas, o homem foi obrigado a alugar um quarto-e-sala bem distante da linda praia de Tambaú, na aprazível João Pessoa.

Onofre, já sem aquela aparência atrativa que nunca teve, sentiu a idade chegar. E, para piorar a situação, o dinheiro se tornou ainda mais curto por conta da pensão para o filho. Quase não sobrava grana para buscar aconchego nos braços de alguma mulher disposta a ceder espaço para o amor em troca de paga, por menor que fosse.

Como o tempo não para, o homem, finalmente, se viu livre do emprego. Aposentou-se aos 65 anos e, sem muitas expectativas para novos casos de amor, viu-se só. Mas nem por isso deixou de tentar. Tanto é que, pelo menos uma vez por semana, Onofre se sentava à mesa de algum quiosque na praia, talvez esperando que alguma garota de 20 ou 30 se sentasse no seu colo. Pura ilusão.

Mas a história que se seguiu foi outra por esses dias. Pois é, lá estava o Onofre velho de guerra, sentado à mesa de um bar com um belo rapazola de 20 anos. Os dois conversavam sorridentes, quando passou o Daniel, antigo colega de trabalho, acompanhado da esposa. O homem cumprimentou o Onofre, que fez questão de se levantar e ir até o amigo.

Aparentando certo nervosismo, Onofre puxou Daniel para um canto. A esposa do amigo não entendeu aquela situação, ainda mais porque ficou plantada em plena calçada, mas preferiu não criar pendenga. Daniel, também sem compreender aquilo, olhou admirado para o antigo colega, que, finalmente revelou o motivo de tê-lo puxado para longe de ouvidos curiosos.

— Olha aqui, Daniel, aquele rapaz é meu filho. Não é nenhum garotão que estou saindo. Ouviu? Quero deixar isso bem claro!

Publicidade
Publicidade

Copyright ® 1999-2024 Notibras. Nosso conteúdo jornalístico é complementado pelos serviços da Agência Brasil, Agência Brasília, Agência Distrital, Agência UnB, assessorias de imprensa e colaboradores independentes.