Notibras

Operação África devasta floresta negra em Brasília

Marta Nobre

Mulheres unidas jamais serão vencidas. Principalmente aquelas que andam nos bastidores como formiguinhas e se travestem de cupins para erguer seus castelos de lama. Até que aparece um tamanduá para acabar com a festa.

É assim que pode ser contada a história do triunvirato Mônica, Evanise e Sandra Louise. A primeira, de sobrenome Monteiro, é esposa de Franklin Martins, ex-ministro da Comunicação de Lula; a segunda, Santos, foi esposa de José Dirceu; e a terceira, Dantas, é mulher de Chico Floresta.

Parte da história já foi contada pelo site O Antagonista. O novo capítulo é exclusivo de Notibras. Fala de muito dinheiro, da influência delas (e deles, para lembrar que por trás de uma grande mulher há sempre um homem, não necessariamente grande) e da sangria de milhões de reais do BNDES.

Mônica é dona da Cine Group, uma produtora especializada em documentários que recebeu, só este ano, 12 milhões de reais do banco estatal que abriu as portas para desbravar uma mina de diamantes em Moçambique. Para ajudar com a picareta, Léo Pinheiro, dono da empreiteira OAS, entrou no circuito.

O tamanduá que começou a engolir essas devoradoras do dinheiro público é conhecido como Sérgio Moro. É o juiz que comanda a Lava Jato. Agora as três terão de explicar muita coisa.

A Força Tarefa da Lava Jato quer detalhes de e-mail trocado entre Mônica e Léo. A dona da Cine Group orienta o dono da OAS sobre como um executivo da empresa deve portar diante do embaixador de Moçambique no Brasil: Diz ao Cesar (Uzeda) que estarei com ele. Me encontre na porta da Embaixada. Ele vai falar sobre campanha política e novos projetos. Ele que colocou a Suzano e a Andrade lá no governo. Era o chefe de gabinete do presidente (de Moçambique).

Sérgio Moro quer que o Ministério Público Federal ouça Léo Pinheiro, em sua delação premiada sobre a troca de mensagens com Cezar Uzeda e Mônica Monteiro. Até onde, por exemplo, Franklin Martins intermediou negócios em Moçambique com dinheiro do BNDES?

Evanise e Sandra Louise aparecem na história em 2009, quando se associaram a Mônica na constituição da ‘Valore Moçambique’. A cota que coube a Evanise veio supostamente de dinheiro lavado por Zé Dirceu. Já Sandra Louise, foi tesoureira do PT do Distrito Federal num período em que o partido gastou muito dinheiro para aumentar a militância em Brasília e tentar devolver seu marido, o ex-deputado distrital Chico Floresta, à Câmara Legislativa, por onde passara anteriormente.

A Valore é uma verdadeira floresta de negócios. Espalhou sementes nas mais diferentes atividades, como sondagem eleitoral, sondagem de opinião na área de mídia, audiência para TV, rádio e imprensa, consultoria para o setor público na realização de projetos de infraestrutura, impacto ambiental, formação profissional, mercado imobiliário, serviços de telecomunicações, assessoria de planos estratégicos, soluções de parcerias e financiamentos, projetos de investimento, importação e exportação, intermediação e representação comercial, gestão de tecnologias e sistema de informações.

Mas, por baixo da lama – é o que suspeita a Força Tarefa da Lava Jato –, as duas empresas, Cine Group e Valore, eram usadas como fachada para fazer lobby para grandes empreiteiras.

Um dos indícios dessa suspeita é a troca de e-mail entre Mônica e Leonardo Calado de Brito, ex-diretor da empreiteira na África. Mônica pergunta a Leonardo se ele participará do encontro de empresários com Lula na África do Sul, em novembro de 2012. “Acho que seria importante para vcs. O Zuma vai participar. Me avisa para encontrarmos lá.” No avião dos cupins, estava reservada uma poltrona para Fraklin Martins e outra – supostamente –, para Chico Floresta.

A parte da floresta negra que terá seus fungos incinerados em Brasília, tem a mão sedenta de um lenhador ávido por eucaliptos e pinheiro que fornecem o papel-moeda. Nesse caso, porém, celulose para dinheiro fora da lei.

Chico é velho conhecido na capital da República. Foi secretário no governo Cristóvão Buarque na época do PT; nunca conseguiu ser reeleito deputado distrital, e espalhou espinhos entre muita gente que lia da mesma cartilha dele.

Em compensação, quem sabia desfrutar de doces aromas, tinha sempre uma rosa de ouro à mão, ou p direito de encher a boca com garoupas no Bar 13. Era ali que se formava uma roda, plantava-se de tudo. Há quem sustente que em uma dessas rodas, de passagem por Brasília, Chico Buarque homenageou o companheiro homônimo com duas músicas.

Uma é Quadrilha: E neste ano, como todo ano, uma vez por ano//Tem quadrilha no arraial//E neste ano, como sempre//Salvo chuva e salvo engano//A satisfação é geral.

A outra tem tudo a ver com a flor da idade: A gente faz hora, faz fila na vila do meio dia […] A gente almoça e só se coça e se roça e só se vicia […] Carlos amava Dora que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava Carlos amava Dora que amava Pedro que amava tanto que amava a filha que amava Carlos que amava Dora que amava toda a quadrilha.

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