Modernidade fisiológica
Opiniões das redes sociais partem do vaso sanitário
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À espera das explicações de Freud sobre o Brasil, me mantenho antenado com o mundo, principalmente com as modernidades. Excluo apenas as fisiológicas. Por isso, não tenho X, Y, muito menos o Z. Com todo respeito a quem tem, não tenho por que entendo que não devo levar as redes sociais a sério. Devo estar errado, mas acho que a maioria das opiniões é de pessoas que estão sentadas no vaso sanitário. Talvez elas não saibam usar como deveriam. O aspecto mais negativo e, portanto, mais relevante para delas me afastar é que as redes atraem quem está longe, mas distancia aqueles que estão perto. Ainda mais sério é que, assim como para o governo e para boa parte da sociedade, também sou apenas um número para as redes sociais.
Perdão pelo sincericídio, mas, donas do mundo desde que passaram a pensar pelo homem, as redes sociais só explicitam o quantitativo de obtusos que existem no Planeta Terra. E são muitos, conforme avaliação do escritor, linguista e filósofo italiano Umberto Eco, contemporâneo de todos os que nasceram no século passado. Para quem sempre esteve além de sua época, Umberto Eco viveu o tempo suficiente para alcançar a evolução tecnológica, a grande culpada, segundo ele, por promover os limitados da aldeia a portadores da verdade. Pouco antes de morrer, em 2016, o filósofo curiosamente publicou em sua página oficial uma de suas mais contundentes críticas à internet.
A curiosidade é o fato dele usar justamente as redes para criticar a internet. Respeitando as loucuras alheias, não tenho a nada a ver com o paradoxo do caro escritor. Pelo contrário. Do ponto de vista das mentiras que recebo diariamente, concordo integralmente com sua tese acerca das redes sociais. Para Umberto Eco, elas deram o direito à palavra a legiões de ineptos que, antes, só falavam nos bares, após um copo de vinho e não causavam mal algum para a coletividade. Os menos ingênuos – ou menos fanáticos – sabem que nem todas as verdades são para todos os ouvidos. Sabem também que nem todas as mentiras podem ser suportadas.
Eis o X da questão. Cientificamente está comprovado que bosta alguma faz nascer cabelos, unhas ou pelos pubianos. No entanto, a internet continua vendendo aos borbotões produtos com essas finalidades. Nada demais que os espertos vendam o que quiserem. O problema são os parvos que compram algo que é impossível de ocorrer. O que fazer? Nada, principalmente agora que, seguindo recomendações superiores, provavelmente de Elon Musk, de Donald Trump e de Mark Zuckerberg, o X, Facebook, Threads e Instagram determinaram o afrouxamento das políticas de conteúdo. Na prática, isso significa facilitar a disseminação de informações falsas e radicalizadas.
O governo brasileiro e boa parte do povo se manifestaram contra, menos a mídia e alguns dos institutos que se utilizam dessas ferramentas para disseminar mentiras contrárias à democracia. Provavelmente esse tipo de empresa caga para as normas. Todavia, no Brasil dos demais brasileiros felizmente existe lei contra aqueles que se acham os donos do mundo. Vale registrar que Zuckerberg, Musk e Trump não são deuses. Se fossem, teriam um testículo a mais para ser amaciado por aqueles que os endeusam. Com certeza, a fila dos apedeutas e dos fanáticos seria grande. É sabido que o meio digital, incluindo as redes sociais, são a principal fonte de informação para quase 80% dos brasileiros.
O que pouca gente sabe – ou finge não saber – é que hoje esse tipo de mídia é claramente utilizado para banalizar questões e temas caros para a sociedade. Em lugar de permitir a interação entre pessoas, o compartilhamento de informações e a construção de boas relações, seus operadores de cima e de baixo preferem confirmar a polêmica tese de Umberto Eco, para quem a internet garante aos ganhadores de Prêmios Nobel o mesmo espaço dado “a uma legião de imbecis”. Posso não concordar – e não concordo –, mas considerando que os jornais mentem, os historiadores mentem e atualmente até a televisão mente, por que não incluir as redes sociais entre os segmentos usados indecentemente por aqueles que, para confundir e tumultuar a escolha de quem os ignora, incluem em suas consultas quem reconhecidamente não é candidato?
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*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras
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