Felipe Corazza
A oposição venezuelana derrotou o chavismo na eleição de ontem e conquistou maioria na Assembleia Nacional, sede unicameral do Legislativo do país. Os resultados divulgados no início da madrugada (horário de Brasília) indicavam que o número de assentos obtidos pela coalizão Mesa da Unidade Democrática (MUD) ficará, na próxima legislatura, em cerca de 99 – faltando definir pequena parte dos assentos no restante da apuração. O governista Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) ficou com 46 assentos. Os demais assentos ainda estavam por definir no momento do anúncio.
O número confere aos deputados da MUD a maioria absoluta. O comparecimento à eleição chegou a 74,25%, número semelhante ao de uma eleição presidencial.
O primeiro boletim oficial de apuração foi divulgado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) já no início da madrugada em Caracas. Os opositores comemoraram a vitória após horas de tensão provocada pela ampliação do horário de votação. Após a divulgação do boletim, o presidente Nicolás Maduro foi à TV admitir a derrota.
O horário inicialmente previsto para o fim da votação foi adiado das 18h (horário local) até que terminassem todas as filas nas seções onde eleitores ainda esperassem. Pouco após a confirmação do adiamento, líderes do chavismo também foram a público afirmar que os cidadãos que ainda sequer haviam saído de suas casas poderiam ir aos locais de votação e aguardar nas filas.
O secretário-geral da MUD, Jesús “Chuo” Torrealba, reclamou muito da decisão, afirmando que a coalizão apenas exigia o cumprimento das leis. “Vou dizer algo extremamente subversivo nesse país: é preciso cumprir a lei. A lei determina que às 18h se encerrem todas as mesas que não tenham eleitores em fila. E os venezuelanos devemos cumprir e fazer cumprir a lei”, afirmou Torrealba. A oposição atribuía o atraso a manobras do chavismo para aumentar seus votos.
Expulsão. Horas antes da decisão de ampliar indefinidamente o horário de votação, o governo anunciou ontem a expulsão dos ex-presidentes Andrés Pastrana, da Colômbia, Jorge Quiroga, da Bolívia, e Luis Lacalle, do Uruguai, que viajaram ao país para acompanhar a eleição legislativa realizada ontem. Convidados pela MUD, os ex-líderes deram declarações consideradas “descabidas” pelo chavismo durante o dia de votação.
A presidente do CNE, Tibisay Lucena, fez um pronunciamento contra os ex-presidentes e anunciou a cassação das credenciais de acompanhantes políticos dada a Quiroga, Pastrana e Lacalle.
“Vimos como alguns observadores políticos, a quem entregamos credenciais na manhã de hoje, em contrária disposição do que diz a lei, fizeram declarações que não têm nenhum cabimento para o momento. As mesas eleitorais estão abertas e exigimos que os observadores políticos que tenham respeito pelo povo da Venezuela.”
A presidente do CNE afirmou que frases ditas pelos ex-presidentes durante o dia contribuíam para “desestabilizar” o processo eleitoral. “As credenciais desses observadores políticos serão definitivamente revogadas.” A base para a decisão foi uma coletiva de imprensa dada pelos acompanhantes convidados pela MUD.
Minutos após o anúncio de Tibisay, o atual presidente da Assembleia Nacional e candidato à reeleição, o chavista Diosdado Cabello, veio a público avisar que, além da cassação das credenciais, pediria a expulsão do país do colombiano e do boliviano. “Vamos solicitar a expulsão de Quiroga e Pastrana, que só vieram fazer o jogo sujo contra a pátria.” O colombiano reagiu às afirmações dizendo que os chavistas poderiam cassar uma credencial, “mas não cassar a vontade do povo”.
Durante uma coletiva de imprensa dada no início da tarde, o ex-presidente boliviano afirmou que “na democracia, não há ‘de qualquer jeito’, há regras”. Quiroga referia-se às declarações polêmicas do presidente Nicolás Maduro e do comando de campanha chavista de que era preciso vencer o processo para escolha das 167 cadeiras do Legislativo “de qualquer jeito”.
O convidado da MUD também comentou a ampla divulgação de declarações de chavistas que durou toda a jornada eleitoral nas emissoras estatais e governistas, maioria na TV aberta venezuelana. Cabello manifestou indignação com as declarações. “Pedimos a expulsão desses senhores da pátria de Bolívar. Que vão a seus países fazer o que quiserem. Sigamos na rua. Que ninguém fique sem votar e esses ataques nos deixem mais fortes.”