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Opositor se declara presidente e aprofunda crise na Venezuela

Juan Guaidó, chefe da Assembleia Nacional, o Parlamento venezuelano, controlado pela oposição, se declarou nesta sexta-feira, 11, presidente do país e pediu ajuda dos militares para derrubar o presidente Nicolás Maduro. O secretário-geral da OEA, Luis Almagro, um crítico de Maduro, chamou Guaidó de “presidente interino” da Venezuela no Twitter.

Em discurso diante de centenas de manifestantes em Caracas, Guaidó citou vários artigos da Constituição para reivindicar o poder. “A Constituição me dá legitimidade para exercer o cargo de presidente, para convocar eleições, mas preciso do apoio dos cidadãos para tornar isso uma realidade”, disse. “Devem ser o povo da Venezuela, as Forças Armadas, a comunidade internacional que nos levam a assumir o mandato.”

O líder opositor ganhou apoio internacional. “Parabenizamos a ascensão de Guaidó como presidente interino da Venezuela”, tuitou Almagro.

Em nota, a diplomacia brasileira também elogiou o presidente da Assembleia Nacional. “Saudamos a manifestação do presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, de estar disposto a assumir constitucionalmente a presidência da Venezuela, diante da ilegitimidade da posse de Nicolás Maduro.”

Imediatamente, Maduro fez um pronunciamento para mostrar que ainda tem o controle do governo. “Isso (a declaração de Guaidó) foi um show para desestabilizar o país”, disse o chavista. “De agora em diante, todos os dias eles vão montar um espetáculo. Se reúnem à noite para decidir qual será o show do dia seguinte.”

A ministra dos serviços penitenciários da Venezuela, Iris Varela, disse que já montou uma cela especial para colocar o presidente da Assembleia Nacional. “Guaidó, arrumei a cela para você, com seu uniforme. Espero que você rapidamente nomeie seu gabinete para descobrir quem vai te acompanhar”, escreveu Varela em sua conta em uma rede social.

Guaidó se tornou presidente da Assembleia Nacional no dia 5, em substituição ao opositor Julio Borges. O Parlamento foi eleito em 2016 com dois terços de maioria opositora. No ano seguinte, porém, o órgão perdeu completamente suas funções quando Maduro convocou uma Assembleia Constituinte, boicotada pela oposição, que assumiu os trabalhos legislativos.

Maduro tomou posse para um segundo mandato na quinta-feira. Diante do prédio da Suprema Corte, onde ele prestou juramento, havia apenas alguns apoiadores, uma situação diferente da multidão que o aplaudiu na estreia de seu primeiro mandato, em abril de 2013.

Maduro e seu antecessor, Hugo Chávez, presidiram a queda livre do que já foi um dos países mais ricos da América Latina. A economia da Venezuela se desmancha num ritmo alarmante. O crescente isolamento podia ser constatado no dia da posse. Estavam lá acompanhando a cerimônia os presidentes da Bolívia, de El Salvador e da Nicarágua, além de representantes de China, México e Turquia. Não havia representantes da União Europeia, dos EUA e dos membros do Grupo de Lima – os 13 países latino-americanos, mais o Canadá, que se organizaram para procurar uma solução para a crise venezuelana.

Apesar da crise, Maduro sobrevive graças a uma reeleição, em 2018, marcada por denúncias de coerção, fraude e votos de cabresto. Na ocasião, a economia venezuelana havia atingido seu nível ainda mais baixo em décadas, em consequência de má administração e corrupção.

Mesmo assim, a Justiça eleitoral informou que Maduro havia vencido com 68% dos votos. O estado caótico do país e o desespero do eleitorado podem ter contribuído para Maduro manter-se no controle. Representantes do partido de Maduro monitoraram os eleitores por meio da “carteira da pátria”, um cartão nacional de benefícios, e prometeram à população ajuda e alimentos subsidiados.

O que sustenta Maduro é a lealdade das Forças Armadas, cujos líderes detêm o controle das indústrias de alimentos e do petróleo, bem como do lucrativo setor da mineração.

Maduro tem apoio de políticos e de governadores. Mas há indícios de descontentamento crescente. Deserções recentes incluíram Christian Zerpa, juiz da Suprema Corte que era um antigo apoiador. Ele fugiu para os EUA e denunciou Maduro como incompetente e a eleição como desonesta.

O isolamento na América Latina deixou Maduro com poucos aliados. Seus dois principais fiadores internacionais são Rússia e China. O presidente russo, Vladimir Putin, reiterou seu apoio ao venezuelano na semana passada. No ano passado, Moscou renegociou uma dívida de US$ 3 bilhões decorrente de empréstimos concedidos para impedir a inadimplência da Venezuela. Maduro também visitou Pequim, em setembro, e garantiu US$ 5 bilhões em empréstimos.

O dinheiro não teve efeito na vida da população. Onde antes o governo construiu casas, hospitais e escolas para os pobres, como parte de sua política socialista, hoje as pessoas não são atendidas em suas necessidades mais básicas. O sistema de saúde entrou em colapso, a fome tornou-se corriqueira e as prateleiras dos supermercados estão vazias.

O FMI previu que a inflação chegará a 10 milhões por cento em 2019, fazendo do país um dos casos mais críticos de hiperinflação da história moderna. Segundo a ONU, mais de 3 milhões de pessoas deixaram a Venezuela desde 2014, criando uma crise regional à qual os países vizinhos não estão conseguindo responder.

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