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Ordem de Trump é restringir a liberdade nos EUA a uma estátua

Debaixo de uma temperatura gelada e digna dos homens das neves, Donald Trump toma posse nesta segunda (20) para seu segundo mandato como presidente dos Estados Unidos. Diante da massa congelante despachada dos territórios da Groenlândia e do Canadá, áreas desejadas pelo ego expansionista do novo mandatário norte-americano, milhares de imigrantes já estão com as malas arrumadas, esperando somente o pontapé nadegal de Trump. Entre esses, centenas de brasileiros patriotas, outros tantos que, torcendo contra a liberdade, fugiram da democracia e alguns que desertaram com medo do xilindró. Chegou a conta do apoio a quem não merecia.

Os indicativos no sentido de expulsar os incômodos foram dados logo após a vitória contra Kamala Harris, em novembro do ano passado. Garantida a faixa presidencial, Donald jurou que, no dia seguinte à posse, expulsaria do país todos os imigrantes irregulares. Na falta de propostas mais importantes, a deportação em massa virou ideal político e emprego garantido para o policial Tom Homan, elevado à condição de “czar das fronteiras” antes mesmo do magnata presidente ser empossado. No Brasil, Homan lembra um dos mais poderosos ministros do governo anterior ao de Luiz Inácio. Mesmo sem coturno, borduna e fuzil, ele comandou, mandou, ordenou e atiçou meio mundo.

No entanto, por obra e graça do destino, hoje tenta e não consegue deixar parte do nariz de fora da areia movediça em que se transformou o Congresso das emendas parlamentares que nunca chegam onde deveriam. Além do próprio manager da trupe, o ostracismo também alcançou tupiniquins fardados que, após mandar e desmandar, correm o risco de permanecerem por anos sob o sol quadrado. Vida longa para Tom Homan, que recebeu de Trump a ordem de restringir a liberdade nos EUA a uma estátua. Por isso, entre borrados e depauperados, os brasileiros que fugiram para a América com a intenção de, sentados no Central Park, assistir ao arrombamento da festa de Lula da Silva a essa hora devem estar cantarolando “vem, vamos embora, que esperar não é saber. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Eles talvez não saibam, mas o Brasil não é mais a cozinha dos EUA. Seria com os “patriotas”.

Sem preocupação alguma com os que não conseguiram cidadania, eu os imagino caminhando, cantando e seguindo a canção, tentando chegar a Ciudad Juárez, no México. De lá, o novo destino só Deus saberá. Os detalhes da deportação em massa estão muito distantes dos brazucas que preferiram ficar. Esses e os que não se acham poderosos, como a maioria esmagadora dos brasileiros, assistirão à posse do 47º presidente dos Estados Unidos pela televisão. Os que não têm poder algum, mas se imaginam Nero, César ou Marco Antônio, partiram para o gelo. Como eles não têm o necessário pedigree para o salão principal do Capitólio, serão obrigados a acompanhar o discurso do homem das neves de telões espalhados pelas áreas nada vips da casa de leis estadunidense.

Talvez nem apareçam nas TVs patriotas. Na Globo Lixo, nem pensar. Ufanismo e narcisismo à parte, brasileiros e brasileiras, patriotas de pizzaria e patriotas de araque se curvam ao Trump que ainda vai dar o que falar. Se depender da atração musical da posse, certamente teremos um presidente diferente daquele que é idolatrado por homofóbicos, misóginos e racistas. Como tudo pode acontecer, permaneçamos – nós e os imigrantes ameaçados – à espera de um milagre. Enquanto aguardamos, vamos acompanhar os negros do Village People, ícone mundial da cultura gay, animando a festinha pública de Donald Trump com hits como Y.M.C.A e Macho man.

Para sorte dos integrantes do Village, o líder dos brasileiros que não admitem os diferentes pensou em ir, foi, ia, mas, por culpa de Xandão, acabou não indo. Até que as coisas aconteçam, direita e esquerda, volver. Apertem os cintos, o piloto voltou a se sentar na cadeira dourada do poder absoluto. Como menino mimado criado com avó e leite de cabra, pelo menos é esse o seu sonho. Realizá-lo é uma história bem mais complicada. Talvez improvável ou, quem sabe, impossível. Afinal, sua expertise para ganhar dinheiro esbarra em sua duvidosa capacidade de negociar com figuras tão poderosas como ele. Na dúvida, melhor esquecer a ideia de anexar o Canadá, retomar o Canal do Panamá e incorporar a Groenlândia. Melhor se ocupar de Javier Milei. Os patriotas da Argentina agradecem. De nossa parte, o recomendável é apreciar Donald Trump com moderação.

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*Mathizalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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