A estreia na terça, 2, de Órfãos da Terra, novela de Duca Rachid e Thelma Guedes, com direção artística de Gustavo Fernández, não apenas mostra uma temática atual, colocando em foco o mundo dos imigrantes e refugiados, como contará um pouco sobre a cultura árabe. Um romance proibido entre uma jovem síria e um libanês, vivido por Julia Dalavia (Laila) e Renato Góes (Jamil) será o ponto de partida da obra, que terá a sua ligação com o Brasil feita por Rania, personagem de Eliane Giardini, que é casada com Miguel Nasser (Paulo Betti). E será a família de Rania que acolherá a jovem Laila.
“Rania tem uma função bem interessante, pois, apesar de ser síria, ela mora no Brasil há muitos anos, e vai meio que traduzindo e trazendo as informações para o público, à medida que ela vai tendo também”, conta Eliane, explicando que ela será essa ponte entre sua cultura original, a síria, com a que escolheu para viver.
Como de costume, para a alegria do público, a atriz fará um papel que possibilita transitar pelo drama e pelo humor também. “A personagem tem um arco grande, vai do drama para a comédia, isso porque ela é muito dramática e isso fica engraçado, às vezes”, avisa Eliane. Toda essa carga de emoções em uma personagem ficará ainda mais intensa quando se sabe que ela tem uma família grande. “É bem diversificada, são três filhas, dois netos, e ainda chega mais essa família da Síria, mas será uma parte que possibilitará quase um respiro das tragédias que ocorrem nos primeiros capítulos”, conta.
Essa possibilidade de transitar por diversas emoções com a personagem agradam à atriz, que diz ser interessante, porque dá a chance de poder expandir cada vez mais o espectro dos seus papéis. “Isso faz com que não me prenda a ser atriz de comédia ou de drama, e eu vou mais por essa linha latina, meio Almodóvar, é um bom exercício, muito interessante pela agilidade.” Ela diz que ao fazer o papel com verdade, “indo pro exagero, que provoca o riso e fica engraçado, eu procuro fazer isso como exercício”.
Uma das características de Rania, e que bem provavelmente será marcante, é o fato de saber ler a borra do café. “Eu achei uma delícia fazer a leitura da borra do café, é muito simples, muito lúdico, lembra as brincadeira de olhar para o céu e ver os formatos das nuvens”, conta a atriz, que disse que, nesse caso, o importante é você treinar essa liberdade de visão, daí não ver apenas o pó de café acumulado, mas enxergar formas, em um verdadeiro exercício de imaginação”, conclui.
Incorporar esses elementos de outra cultura, para Eliane, não foi coisa de outro mundo, pelo contrário. “Eu já tenho uma boa familiaridade com essa cultura oriental, porque eu já fiz vários trabalhos, um deles foi na minissérie Dois Irmãos, em que fazia uma libanesa, então, muitas das coisas dessa preparação eu já conhecia, como a dança, mas dessa vez fizemos aula de culinária, que foi bem interessante”, afirma ainda a atriz, que diz que essa parte do trabalho é uma das coisas de que gosta, pois faz o ator se colocar no lugar do outro.
É sempre curioso saber se o personagem tem algo da atriz, ou vice-versa. E Eliane revela que o ponto em comum entre as duas é o valor familiar. “A família, para mim, é minha prioridade absoluta, meu norte. Raina é uma mulher que comanda uma casa grande, marido, filhos, netos, é bastante sensata, contemporiza a situação, somos meio parecidas nesse aspecto.” E o fato de a novela abordar um tema tão atual, ela considera ser absolutamente oportuna a discussão. “Nesse momento em que refugiados vivem debaixo de um preconceito horrível, e a maioria das pessoas tem ideias malformadas sobre essa questão”, conta Eliane, que avalia que a novela, apesar de ser um entretenimento, consegue colocar assuntos que tragam mais reflexão, mais consciência para as pessoas.