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Orgulho alimenta ego dos compositores da velha guarda das escolas de samba do Rio

Cristina Indio do Brasil

Se o assunto é tradição nas escolas de samba, sempre surgem nas conversa as presenças da “velha guarda” e dos “baluartes”, e não por acaso o respeito fala mais alto. Fazer parte da “velha guarda” é um orgulho para os sambistas, muitos deles ligados à ala de compositores da escola. Mas, ser um baluarte também é motivo de orgulho, e a história da escola se confunde com a dele. Nas duas escolas do grupo especial, que concentram o maior número de títulos no carnaval carioca – Portela (21) e Mangueira (17) – o que não falta é figura de destaque para mostrar aos mais novos como tudo começou

Monarco chegou cedo à Portela. “A Portela é minha escola de vida!”. Era um garoto de 12 anos, quando se mudou de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, para Oswaldo Cruz, na zona norte do Rio de Janeiro. A casa ficava bem perto da quadra da escola, conhecida atualmente como Portelão. “Era só descer, e em cinco minutos estava dentro da Portela”, diz ele.

O compositor revela que ainda em Nova Iguaçu ouvia, pelo rádio, músicas que já faziam referências à escola e despertaram o amor pela azul e branco. “Lá eu escutava samba, a Araci de Almeida cantando, e falava em Paulo da Portela, um dos fundadores da agremiação. “Quando cheguei a Oswaldo Cruz disse aos meus irmãos que ali era a Portela. Fui com a minha família. Eu era o menor”.

Ele lembrou dos carnavais em que as escolas se apresentavam ainda na Praça Onze, depois passaram para a Avenida Presidente Vargas, para a Avenida Antônio Carlos e se transferiram para a Rua Marquês de Sapucaí, mas ainda antes da construção do Sambódromo. “Em [19]47 o carnaval foi sobre Santos Dumont, foi o primeiro que desfilei na Portela, e eu fui puxando corda para não deixar as pessoas invadirem. A Portela era ainda pequenininha. Pequena na maneira de dizer, o contingente não era de muita gente. Naquela época era de 200 a 300 pessoas”, contou.

Parte da história da Portela pode ser contada também com os sambas de Monarco, que enaltecem a escola e o bairro de Oswaldo Cruz. O primeiro foi em 1952, mas ele faz questão de destacar que embora se fale da azul e branco como escola de Madureira, a origem é outra. “Oswaldo Cruz foi onde ela nasceu. Queira ou não queira, não se pode renegar o lugar em que nasceu. Eu gosto muito de Madureira, mas ela tem as raízes fincadas em Oswaldo Cruz”, apontou.

Monarco recordou ainda que o compositor Noel Rosa, no samba Palpite Infeliz, deixa isso bem explicado. “Não foi à toa que Noel fez o samba em 35, em que ele cita: Salve Estácio, Salgueiro e Mangueira, Oswaldo Cruz e Matriz. Oswaldo Cruz ele quer dizer é a Portela. Cartola também escreveu que devíamos ser adversário como Oswaldo Cruz”, comentou, reconhecendo, no entanto, que o limite entre os dois bairros é meio confuso.

Para o compositor, a escola voltou a ter o destaque que merece entre a elite do carnaval carioca. Ele ficava triste com comentários de que a Portela não estava disputando nada. “A verdade é que a Portela estava dando uma cochilada. Hoje não. No ano passado saiu da avenida aos gritos de ‘é campeã’. Teve momento em que a arquibancada levantou. Hoje, a Portela está incomodando”, disse, alegre.

Na Mangueira, parte da história pode ser contada com os sambas de Nélson Sargento, baluarte que tem satisfação com o título. “Comecei em 1948, de lá para cá aconteceu muita coisa boa comigo, e ainda acontece. Sou presidente de honra da escola, saio em todos os carnavais, sou baluarte da escola e sou Mangueira até morrer”, disse orgulhoso.Ser mangueirense para ele é respeitar a escola e poder participar do cotidiano dela. “Isso me deixa satisfeito. Ver a Mangueira sempre com progresso”.

Nelson Sargento sabe que o seu samba-enredo Primavera – Quatro Estações do Ano, feito em parceria com o padrasto Alfredo Português, em 1955, fez história e ainda hoje é um dos mais lembrados, considerado um dos mais belos do carnaval carioca. “Todos os sambas que eu fiz, de enredo, foram marcantes, mas teve o que se destacou – claro! –, que é o Primavera, no ano de 1955. O título do enredo era Cântico à Natureza, e falava da primavera, e eu fiz o samba que tratava das quatro estações do ano. É um samba que foi considerado o melhor de todos os tempos da escola”.

Para ele, é uma emoção quando um compositor pode ver a sua escola preferida desfilar com um samba-enredo dele. “Todo compositor gosta de ver a escola desfilando com um samba que ele compôs. Isso é uma emoção. Ver nosso samba na boca de 3 mil pessoas. É muito gratificante”, contou.

Diante de tanta importância para a história da Mangueira, Nélson Sargento tem um conselho às novas gerações de mangueirenses. “Amor à escola é o que eu posso dizer para a juventude. Respeitar, torcer e sempre ajudar a escola [da qual] ele faz parte”, concluiu.

Agência Brasil

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