José Escarlate
Em seus últimos anos de vida, o presidente João Figueiredo viveu no ostracismo. Preferia assim. Pena estar longe de seus cavalos, do ar puro do Sítio do Dragão, dos amigos mais queridos que gostava. Acordava, depois de uma noite ruim, queixava-se de dores, que se tornaram crônicas.
Um dia cansou-se dos remédios tradicionais para suas dores de coluna e decidiu entregar-se aos cuidados do ortopedista paulista Haruo Nishimura, que lhe aplicava massagens orientais e sessões de alongamento. Até os cartões de Natal e boas festas escasseavam. A falta de dinheiro o atormentava e o mau humor era permanente.
Às vezes desabafava para Galveas e Gazalle: “A maior burrada que fiz foi comprar este apartamento”. E relembrava com saudade o seu velho apartamento de Copacabana. “Era um paraíso”. Ernane Galvêas, que foi seu ministro da Fazenda, era dos poucos amigos leais.
Era Galveas quem promovia sempre o almoço de aniversário do ex-presidente, em janeiro. No primeiro encontro, estavam à mesa 25 amigos. Com o passar do tempo, eles foram reduzidos para apenas oito.
Na missa em memória dos 30 anos da morte do ex-presidente Humberto Castello Branco, promovida por oficiais da Aeronáutica, seu nome foi esquecido. Figueiredo só se deslocava amparado por dois seguranças e, poucos dias antes de nos deixar, não reconhecia mais ninguém.
Na tarde do dia 24 de dezembro de 1999, quando as famílias brasileiras preparavam-se para comemorar o Natal, baixava à sepultura no Cemitério São Francisco Xavier, no Cajú, o corpo do carioca de São Cristóvão, torcedor e benemérito do Fluminense e tríplice coroado do Exército Brasileiro, João Baptista de Oliveira Figueiredo.