Falta espaço para romantismo
Ossos, retóricas e dores das guerras que nos afligem
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Dizem que a guerra veste as roupas do destino,
Que os mortos são sementes do desejo divino,
Falam de heróis como se o sangue fosse mostarda,
Mas são restos de ossos sob a ponte quebrada;
Inventam bandeiras com tons de lamento,
Batizam de “glória” o que é só sofrimento,
“Pela pátria!”, berram, mas é só pela fama,
Rapidamente esquecem dos mortos perdidos na lama;
Fogos de artifício nas mãos dos generais,
As mortes são sintetizadas à coreografias fatais,
Quem paga o ingresso dessa falsa libertação?
Os que nascem sem rosto e morrem sem identificação;
Há quem desenhe deuses em granadas,
Quem beba hinos, como se fossem águas plácidas,
Mas perguntem às crianças que desenham casas,
Com lápis de cor e borram com suas lágrimas;
Nenhuma romantização, cura feridas abertas,
Nenhuma ideologia enche o prato vazio,
A guerra não é mar de rosas, nem leva ao céu,
É o grito da mãe, que reconhece o filho pelo anel;
Não existe “lado bom” quando a carne é dilacerada,
O choro e o futuro são somente sílabas estilhaçadas,
Cala a boca, oh retórica de bronze e ilusão!
Não há paraíso que justifique a maldade e opressão.
