Chá de sumiço
Osvaldo, egocêntrico, escorre pelo ralo e desaparece após elogios

Osvaldo era escritor. Tinha livros publicados e participava de vários grupos literários no Facebook e outras redes sociais.
Aposentado, dedicava boa parte de seu tempo a produzir contos, que postava nesses grupos, antes de serem destinados a um novo livro.
Gostava de ver como as ideias se entrelaçavam às palavras, gerando estruturas de sedução dos leitores. E, cabotino na última, gostava ainda mais de ver como estes respondiam a esses estímulos e o elogiavam com entusiasmo.
Nessas ocasiões, Osvaldo ficava profundamente emocionado. Relia com olhos de leitor o texto que escrevera, procurando identificar as passagens mais tocantes, divertidas ou surpreendentes. Saboreava, com os olhos fechados, as palavras de louvor, gravadas para sempre em sua memória. E agradecia aos deuses pelo sucesso alcançado.
Quando o barato do êxito literário começava a passar, aí sim, preocupava-se em agradecer ao leitor ou leitora. As fórmulas variavam, mas uma das mais usadas era a seguinte:
“Obrigado por suas gentis palavras de estímulo, Fulana ou Fulano. Elas me animam a continuar a escrever. Mas, por favor, modere nos elogios. Assim eu me derreto, escorro pelo ralo e sumo de vez rsrs”.
Mas houve um dia em que Osvaldo se mostrou excepcionalmente criativo, seu texto ficou excepcionalmente bom, os elogios foram excepcionalmente calorosos e ele ficou excepcionalmente emocionado.
E aí não deu outra: começou a derreter, escorreu pelo ralo e desapareceu da face da Terra.
