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Chá de sumiço

Osvaldo, egocêntrico, escorre pelo ralo e desaparece após elogios

Publicado

Autor/Imagem:
Cadu Matos - Foto Francisco Filipino

Osvaldo era escritor. Tinha livros publicados e participava de vários grupos literários no Facebook e outras redes sociais.

Aposentado, dedicava boa parte de seu tempo a produzir contos, que postava nesses grupos, antes de serem destinados a um novo livro.

Gostava de ver como as ideias se entrelaçavam às palavras, gerando estruturas de sedução dos leitores. E, cabotino na última, gostava ainda mais de ver como estes respondiam a esses estímulos e o elogiavam com entusiasmo.

Nessas ocasiões, Osvaldo ficava profundamente emocionado. Relia com olhos de leitor o texto que escrevera, procurando identificar as passagens mais tocantes, divertidas ou surpreendentes. Saboreava, com os olhos fechados, as palavras de louvor, gravadas para sempre em sua memória. E agradecia aos deuses pelo sucesso alcançado.

Quando o barato do êxito literário começava a passar, aí sim, preocupava-se em agradecer ao leitor ou leitora. As fórmulas variavam, mas uma das mais usadas era a seguinte:

“Obrigado por suas gentis palavras de estímulo, Fulana ou Fulano. Elas me animam a continuar a escrever. Mas, por favor, modere nos elogios. Assim eu me derreto, escorro pelo ralo e sumo de vez rsrs”.

Mas houve um dia em que Osvaldo se mostrou excepcionalmente criativo, seu texto ficou excepcionalmente bom, os elogios foram excepcionalmente calorosos e ele ficou excepcionalmente emocionado.

E aí não deu outra: começou a derreter, escorreu pelo ralo e desapareceu da face da Terra.

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