Maryna Lacerda
São 35 anos dedicados aos jardins e parques do Distrito Federal. Desde que entrou na Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap), em dezembro de 1981, Rosie Otacílio da Conceição Melo, de 54 anos, já viu pequenas mudas se transformarem em frondosas árvores.
Ele é o profissional da companhia há mais tempo em atividade. Já plantou e replantou flores em canteiros de todas as regiões administrativas de Brasília. Também participou, ao lado de celebridades e políticos, de cerimônias de entrega do paisagismo dos palácios da capital do País.
Independentemente de tudo isso, a real satisfação dele é perceber o encantamento das pessoas pela explosão de cores na cidade.
O trabalho com jardinagem começou ainda na adolescência, aos 16 anos. Melo foi contratado como jovem aprendiz por uma empresa de jardinagem que prestava serviços para a Novacap. “Comecei a trabalhar por causa do salário, porque precisava do dinheiro. Não ligava muito para jardinagem, não”, lembra.
Com a experiência adquirida, recebeu convite para integrar os quadros da empresa pública, aos 19 anos. “Comecei a ter muito gosto pelo trabalho. Vim de uma situação muito complicada, com dificuldade para comer, para ter o mínimo de conforto. Considero a jardinagem a minha formatura.”
As espécies preferidas do jardineiro são as palmeiras, os ipês e os flamboyants. “É tão bom ver a cidade florida. Fica tudo muito bonito e é bom saber que eu posso colaborar com isso”, diz.
Nascido em Solânea (PB), Melo veio para Brasília com 3 anos de idade. “Passamos alguns meses aqui, e meu pai nos levou para correr o mundão. Fomos para São Paulo, mas não me lembro quanto tempo ficamos lá. Meus pais se separaram, e minha mãe voltou para cá comigo e meus cinco irmãos”, explica.
No DF, a família morou no Morro do Querosene, uma ocupação irregular no Núcleo Bandeirante, até receber um lote em Ceilândia, onde o jardineiro vive atualmente.
Por ocasião de eventos e lançamentos de praças, Melo conheceu, em 1998, a artista plástica e viúva do músico inglês John Lennon, Yoko Ono, que veio conhecer o então Museu de Arte de Brasília.
“Ela foi muito simpática, tirou fotos com a gente da jardinagem. Lá na língua dela, deu para perceber que nos agradeceu pelo plantio”, recorda Melo.
O jardineiro participou do trabalho de paisagismo de todos os palácios da capital — do Planalto, da Alvorada, do Jaburu e do Buriti — e do Bosque dos Constituintes, ao lado da Praça dos Três Poderes.
“Na inauguração do bosque, em outubro de 1988, conheci o Ulysses Guimarães e vários outros políticos. Mas foi ele quem foi lá nos agradecer pelo trabalho”, rememora. O benefício que o trabalho de Melo traz para a população o motiva. “Fico muito feliz nas inaugurações, quando a comunidade agradece, diz que a praça ficou bonita. Aí vejo que meu trabalho fez a diferença.”
Agência Brasília