Conhecido por seus grandes feitos dentro da Polícia Civil do Distrito Federal, o delegado aposentado Laerte Bessa (PR) não abandonou seus vínculos políticos. Muito menos assiste o cenário policial do DF pela televisão. Pelo contrário. Desde que ficou sem mandato de deputado federal (ele foi eleito por duas vezes), Bessa veste o paletó e gravata e vai ao Tribunal do Júri proteger a pele de homicidas.
“Jamais advogo para bandidos”, garante o ex-deputado. Ao tomar posse da sua carteirinha da OAB, Bessa começou a buscar casos de pessoas acusadas de homicídios. O mais recente e porque não, um dos mais importantes de sua breve carreira de advogado, é o que envolve o crime da 113 Sul. Ele defende a principal acusada, segundo as investigações da PCDF, a filha do casal Villela, Adriana. “Acredito 100% na inocência dela”, afirma.
Na manhã da quinta-feira (20), Laerte Bessa recebeu Notibrás em sua residência, em Águas Claras, para bate papo sobre polícia, sua trajetória na PCDF, e inevitavelmente sobre a gestão Agnelo, que segunda sua avaliação, é a pior da história da capital. Também falou sobre seu apoio a José Roberto Arruda e porque não aceitou o convite para ser Secretário de Segurança Pública. Confira os principais trechos da entrevista a seguir:
Depois do fim do mandato em 2010, o que o senhor tem feito profissionalmente?
Estou advogando desde que eu sai da câmara federal eu aposentei na polícia e tirei a carteira da OAB e estou advogando, especializado em Júri. Eu escolho minhas causas. Jamais advogo para bandidos. Advogo para pessoas que cometeram crime circunstancialmente, que não são pessoas de má índole. Aqueles que cometeram homicídio, mas por legítima defesa.
Como é defender um homicida, o senhor consegue dormir bem?
Veja bem. Tem circunstâncias que o sujeito comete o homicídio para salvar a vida dele. As vezes ele é acusado de cometer o assassinato e não cometeu. Nós advogamos para esse tipo de pessoa. Não para assassino contumaz.
O senhor demora quanto tempo para saber se vai aceitar um caso?
Num prazo de uma semana consigo ler o processo e decidir.
Está em algum caso no momento?
Estou advogando no caso Vilella. Sou advogado da Adriana, junto com o Kakay. Eu tenho certeza absoluta que ela não mandou matar os pais. Não tem nenhum indício apontando. Só a mídia que levanta essa premissa que as investigações levam pra ela. As investigações só levam a esclarecer que ela não tem nada a ver. Acredito que esse ano ela será julgada. Acredito 100% na inocência dela. A delegada Mabel levou o caso para o campo pessoal. Não sei por qual motivo ela tem bronca da Adriana. A Mabel começou a forjar provas pra condená-la. Nós vamos provar.
E politicamente, quais têm sido suas atividades?
Politicamente eu não fiz nada. Minha única preocupação é a segurança pública.
O senhor chegou a ser convidado para ser secretário de Segurança Pública?
Sim. Não diretamente pelo governador, mas por intermediários. Pessoas ligadas a eles me procuraram, antes mesmo do Sandro (Avelar). Me procuraram pra saber se, escolhido, eu toparia. Disse que não porque eu não tinha nenhum laço de amizade com o governador.
Caso o senhor fosse Secretário de Segurança, o que faria que o Sandro Avelar não está fazendo?
Eu iria procurar valorizar o policial. Dar estímulo para ele trabalhar e procurar um salário adequado.
E qual é o salário adequado?
É o salário de sete, oito anos atrás, mas com as devidas correções. Tem oito anos que eles (PCDF) não têm um reajuste. Um salário de quatro, cinco mil a oito anos é uma coisa. Hoje não é nada. Brasília é uma cidade muito cara.
E é só isso que falta?
Não. Falta muita coisa. É preciso ir às ruas com o policial. O secretário, até por uma forma de estimular os policiais, ele tem que ir pra rua, participar das operações. Ver o que está acontecendo, não diretamente, mas indiretamente. Muitas vezes o policial está nas ruas e tem medo de tomar decisão. Ele não sabe em quem confiar.
Está satisfeito com a direção da Polícia Civil do DF?
Olha. O doutor Xavier está sem estrutura. O governo não dá estrutura pra ele. Por exemplo, a Polícia Civil tem que aumentar o quadro dela que é o mesmo de 40 anos atrás, quando Brasília tinha 700 mil habitantes. Nem sequer os que saíram foram repostos. A polícia não tem material humano.
O governo Agnelo te agrada?
Penso igual toda Brasília pensa. É o pior governo que já tivemos. Em todas as áreas. O governador Agnelo ficou três anos inerte. Sem fazer nada. Não é agora que vai fazer. Ele não é administrador. Foi a maior mentira que Brasília já teve.
As instituições policiais têm autonomia ou sofrem com ingerência política?
Tem demais (influência política). As polícias hoje, tem seus pseudo representantes, que são os deputados distritais. Eles só atrapalham. Querem intervir na polícia para tirar proveito e não para ajudar a instituição como destinar verba para comprar viatura, por exemplo. Estão na Câmara Legislativa em prol deles mesmos.
O senhor teve algum papel na eleição do Sindicato dos Policiais do DF?
Eu não apoiei nenhuma chapa. Sou sindicalizado, mas nem votar eu não votei. Por que não quero intervir nas necessidades dos policiais hoje. Eles queriam mudar. Agora na hora da posse da chapa eu vou lá pra saber no que eu posso ajudar. Eu tenho perspectiva boa da nova direção. A polícia ficou abandonada nesses quatro anos e o sindicato não fez nada para resolver a situação. Simplesmente abaixou a cabeça.
Há diversas críticas aos delegados da PCDF. Questionam inclusive a falta de “fibra” nos jovens delegados. O senhor tem a mesma opinião?
Sim. (Até porque) o Ministério Público exige que a polícia trabalhe legalmente. Só que não olham o lado da sociedade. Vou dar um exemplo: eu trabalhei na antissequestro do DF por oito anos. Chegava a informação de um sequestro onde a vítima estava no porta-malas e sumiram com ela. Só que a pessoa estava com o telefone dela. O que eu precisaria? Ter acesso ao sinal do celular para localizá-lo. Para isso teria que acionar uma operadora e aí tinha todo o trâmite legal. Você acha que eu fazia isso? Fazia com as próprias mãos para salvar a pessoa. Eu nunca trabalhei legalmente, Graças a Deus.
Seu apoio é claramente para o retorno de José Roberto Arruda. Por que?
Apoio o Arruda porque acho que é o único que pode reverter a situação de Brasília. Não tem outro. Rollemberg? Pelo amor de Deus. Agnelo? Puta que pariu. Pitiman? Acho que essa composição (Arruda e Roriz) é boa em questão política e do povo. O povo gosta dos dois. Mas eu pessoalmente nunca fui favorável a essa união.
Elton Santos, Repórter Especial