Um prédio suntuoso, ocupando um terreno com mais de 500 metros quadrados na não menos majestosa região da orla da Terceira Ponte do Lago Sul, é o novo point de parte do PIB de Brasília que gosta de viver perigosamente. Se não em meio a criminosos, com certeza junto de quem gosta de contravenções.
Na edificação funciona a P2W. Play to win. Quem entende de jogatina sustenta que a tradução literal é jogue para ganhar. Quem foi à inauguração, na noite da terça-feira, 16, garante que o local é de fazer inveja a cassinos de Las Vegas.
A P2W é propriedade de Fayed Traboulsi. Trata-se de um homem rico, conhecido nos meios policiais (civis e federais) como o maior doleiro em atividade na capital da República. Até prova em contrário, dizem, não é um criminoso. Apenas um contraventor que volta e meia é recolhido a celas de onde vê o sol nascer quadrado.
O novo negócio de Fayed Trabousi funciona no mais requintado polo gastronômico do Lago Sul. Um dos vizinhos poderosos da P2W é o Clube da Adepol, onde se reúnem os delegados da polícia civil de Brasília. Quem recrimina esse jeito do doleiro ganhar dinheiro fácil fica em dúvida. Fayed é corajoso, ou a polícia é cega.
A sede da P2W foi erguida em tempo recorde. De mero projeto arquitetônico até o dia 31 de março último, quando Fayed foi preso pela última vez, ganhou a imponência que apresenta em pouco mais de 72 dias – talvez para recuperar as 72 horas em que ele esteve recolhido na Penitenciária da Papuda.
Para ter a casa funcionando rapidamente, Fayed mostra ser um homem poderoso e com afilhados no governo de Rodrigo Rollemberg. Não fosse isso, não teria obtido alvará de funcionamento – alvarás, aliás, tidos como o maior tormento de empresários avessos a jogos. E, pior. Na hipótese de não haver alvará, por quê a Agefis não toma as devidas providências?
Amigos de Fayed Traboulsi sustentam que o doleiro não pratica crimes. E que só joga para ganhar. Até pode ser verdade, pois as leis brasileiras diferenciam o que é crime (sinônimo de delito) de contravenção (algo do tipo delito anão, que se convencionou chamar crime vagabundo). Outros amigos vão mais além. Fayed é um visionário que se antecipou, ao montar a P2W, à liberação da jogatina que volta a ser discutida na Câmara dos Deputados. E como no Brasil leis costumam retroagir em benefício do infrator…
José Seabra