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Pai critica filho, e irmão o irmão. Eleição racha tudo

Foto/Reprodução das redes sociais

Em ano de eleições, o Brasil vem assistindo a um aumento de discussões cada vez mais agressivas a respeito de política nas redes sociais. Como, então, tornar os debates mais saudáveis, produtivos e, principalmente, como não perder amigos e balançar o relacionamento com familiares ao falar sobre o assunto?

De acordo com o filósofo e doutor em teologia Miroslav Volf, a tarefa é um desafio, já que o próprio processo eleitoral “é competitivo e alimenta a intolerância”. Mesmo assim, segundo o croata, é possível chegar a um consenso. “Uma forma de resistir à intolerância é comprometer-se com a verdade e a justiça independente do que os partidos (políticos) acreditam”, disse. “Dessa forma, vamos ouvir sempre a voz da verdade no lugar de repetir o discurso dos partidos”, acredita.

Volf veio ao Brasil para participar do Forum Equilibrium, entre os dias 8 e 10 de junho, na Catedral Evangélica de São Paulo. Ele é conhecido principalmente por seu discurso inclusivo e por suas reflexões sobre como os ensinamentos cristãos podem criar uma sociedade mais tolerante.

Autor de mais de 20 livros, entre eles “Uma fé pública: como os cristãos podem contribuir para o bem comum”, atualmente ele dirige o Centro de Fé e Cultura da Universidade de Yale, nos EUA, onde também é professor.

Embora concorde que a intolerância seja incitada pela competição eleitoral, o teólogo é bastante crítico ao falar da polarização política radical, particularmente quando vê cristãos envolvidos. “Observando como muitos cristãos se comportam atualmente, especialmente no espaço público, (acredito que) muitos se esqueceram de que o amor ao inimigo é uma assinatura moral da fé cristã”, afirma.

Para ele, a radicalização no discurso político está cada vez mais comum e pode ser encontrada não apenas no Brasil, mas em diversos países ao redor do mundo. Isso, no entanto, não deve ser motivo para desfazer laços familiares ou perder amizades. “Às vezes, amar aqueles com quem não concordamos requer evitar certos tópicos na conversa”, diz. “Ou podemos fazer melhor e nos colocarmos no lugar do outro, ver a perspectiva dele, entender suas reações e, quem sabe, mudarmos e ajudarmos o outro a mudar também”, reflete.

De todo modo, Volf concorda que, muitas vezes, mesmo quando queremos e estamos dispostos a ter uma conversa saudável, o diálogo pode não acontecer porque o outro lado não está tão receptivo. Às vezes, estamos querendo “construir pontes’, mas o outro lado quer “um grande muro ou deseja brigar”, explica. “Às vezes, as pessoas se agarram mais aos seus inimigos do que aos seus amigos. Isso é um problema”, afirma.

Conhecida por seu discurso inclusivo e bastante alinhada aos pensamentos de Miroslav Volf, a Catedral Evangélica de São Paulo, da ordem presbiteriana, é comandada pelo pastor Valdinei Ferreira, que também vê na fé cristã um caminho para tornar a sociedade mais tolerante. “O cristianismo, na sua origem, sempre valorizou o pluralismo (de pensamento)”, explica. “A oportunidade de servir e amar ao próximo existe sempre, não é só às vezes. Queremos lembrar isso para desarmar esse clima de guerra que se instalou (nos debates)”, diz.

Segundo ele, a conversa sobre política ou mesmo qualquer outro debate que envolva paixões ou tabus culturais deve deixar a paixão de lado e ser baseada na racionalidade. Isso, e um pouco de generosidade e boa vontade também. “Santo Agostinho disse que ‘a verdade não é minha nem tua, para que possa ser tua e minha'”, conta. “Precisamos ter o bom senso de ouvir as razões das pessoas e não deixar nossos medos e incertezas serem projetados no outro”, finaliza.

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