Erika Suzuki
O professor emérito e ex-reitor da UnB Lauro Morhy morreu neste domingo, 17, em decorrência de um câncer. Ele estava com 76 anos. O velório ocorrerá nesta terça-feira (19), das 10h às 12h, na capela 10 do cemitério Campo da Esperança.
“Estive com ele no hospital na semana passada. Fiz uma longa visita e, na minha ingenuidade, julguei que ele estava bom, que sairia logo do hospital. Ele ainda estava muito lúcido, preocupado com a doença e com a Universidade, achando que ainda teria forças para continuar a batalha contra o câncer. Infelizmente não conseguiu. Tenho o professor Morhy como um grande exemplo e inspiração. Estou muito sentido com a perda de um querido amigo”, disse o reitor Ivan Camargo.
Para a vice-reitora Sônia Báo, Morhy “pensava o futuro, a formação de recursos humanos e a produção de conhecimento, buscando prever demandas que estariam por vir”. “Ele é referência nas áreas de biotecnologia e de biodiversidade, e influência presente na nossa gestão.”
“O professor Lauro amou esta UnB como uma filha. Cuidou da universidade e da comunidade com carinho e dedicação. Era uma referência para os que trabalhavam com ele e continuará a ser inspiração de conduta e de profissionalismo para todos nós. É uma perda imensa para a UnB”, disse a decana de Assuntos Comunitários, Thérèse Hofmann, amiga do ex-reitor.
Primeiro reitor reeleito (1997-2005), Morhy ajudou a implantar o Programa de Avaliação Seriada (PAS) e a política de cotas para negros e indígenas na UnB. Com a construção do campus em Planaltina, iniciou o processo de expansão da Universidade.
“É uma mistura de vazio e tristeza imaginar a UnB sem o professor Lauro. Professor, pesquisador e gestor sério, dedicado e comprometido com a instituição, foi o criador do Cespe e do PAS como modalidade alternativa de ingresso à UnB. Perdi um amigo de 30 anos. Trabalhamos juntos conduzindo os vestibulares da UnB nas décadas de 80 e 90. Fica muita saudade”, disse o decano de Ensino de Graduação, Mauro Rabelo.
Natural de Guarajá-Mirim (RO) e formado em Química pela Universidade Federal do Pará (UFPA), Morhy ingressou na UnB na década de 70 para lecionar no Departamento de Química, migrando depois para o de Biologia. Em 2006, foi agraciado com o título de professor emérito, após quase uma década como reitor. “Estimados amigos, um mundo novo e melhor sempre poderá ser criado”, disse à época. “Dirigi a UnB mais voltado para o futuro. Sempre soubemos crescer, mesmo nos momentos adversos.”
Morhy ajudou a consolidar o programa de pós-graduação em Biologia Celular, tendo sido o primeiro cientista no Brasil a fazer o sequenciamento completo de uma proteína, ainda nos anos 80. Primeiro aluno de iniciação científica de Morhy, Marcelo Valle, hoje professor do Departamento de Biologia Celular, relembra uma história de pioneirismo.
“Ele foi um dos principais pesquisadores brasileiros em Bioquímica, responsável pelo primeiro sequenciamento de uma proteína no Brasil e pioneiro também em espectrometria de massa, uma técnica fundamental para a proteônica, que estuda proteínas em larga escala. Tem também todo o seu trabalho de administração universitária. Colocaria o professor Morhy no mesmo rol de Darcy Ribeiro e Anísio Teixeira.”
Lauro Morhy foi também presidente da Associação Brasileira de Química, consultor em órgãos como CNPq e Finep e membro do Conselho da SBPC, da Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular e da New York Academy of Sciences. Ele mantinha um site onde é possível saber mais sobre a vida e a obra do educador.
EX-REITORES – O ex-reitor da UnB (2008-2012) e professor da Faculdade de Direito José Geraldo de Sousa Junior trabalhou com Morhy desde a gestão do ex-reitor Cristovam Buarque (1985-1989). Segundo ele, Morhy foi articulador de grandes projetos acadêmicos, tendo sido o formulador do Programa de Avaliação Seriada (PAS) e personagem central na transformação do Cespe na mais importante estrutura de avaliação, certificação e credenciamento do serviço público brasileiro. A participação de Morhy foi fundamental também na instalação da Universidade Federal do Tocantins (UFT).
“Ele sempre foi um homem muito consciente dos problemas do país e da UnB, um homem de perspectivas críticas, históricas e políticas, com uma visão solidária do desenvolvimento no país. O trabalho de Morhy honrou muito a Universidade de Brasília”, disse.
Em viagem à Espanha, o ex-reitor e Senador Cristovam Buarque enviou nota de pesar. “A UnB, Brasília, o Brasil, todos nós perdemos um grande cientista, um reitor com muita seriedade. E muitos de nós perdemos também um amigo. A UnB está de luto.”