Um estudo publicado recentemente na revista científica Pediatrics mostrou que traumas sofridos na infância podem acarretar em danos que duram gerações. De acordo com a pesquisa, conduzida por profissionais do núcleo de medicina pediátrica da Universidade da Califórnia (UCLA), pais que passaram por situações traumáticas na infância são mais propensos a ter filhos com problemas psicológicos e comportamentais.
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores usaram dados do Panel Study of Income Dynamics (PSID) de 2013, um censo que reúne dados socioeconômicos, demográficos e de saúde dos moradores dos Estados Unidos – semelhante a PNAD contínua do IBGE – e de um suplemento feito no ano seguinte, a Child Development Supplement (CDS). Foram 2.903 crianças analisadas, de 0 a 17 anos, todas cujo pai ou mãe haviam respondido a PSID.
Os pais responderam, na primeira pesquisa, se haviam passado por eventos traumáticos como: abuso físico, emocional ou sexual; negligência emocional; ter testemunhado violência em casa; ter testemunhado uso de drogas em casa; ter tido pai ou mãe com doença psicológica; ter um dos pais ausentes, por divórcio, abandono ou morte.
Já a análise comportamental das crianças se baseou no Índice de Problemas Comportamentais (BPI, na sigla em inglês), um questionário com 30 perguntas respondido pelos pais na pesquisa de 2014 sobre seus filhos, que avalia a indicência e nível dos problemas de uma criança ou adolescente. Esse questionário avalia características como autocontrole, persistência, autoestima, capacidade de interação social e conformismo.
Depois de coletados esses dados, os pesquisadores cruzaram os resultados e descobriram que os pais que tiveram algum trauma na infância costumam ter filhos com menos características comportamentais positivas. Para chegar a essa conclusão, foram considerados diferenças como status econômico, etnia e nível de escolaridade.
“Experiências tidas no começo da vida – especialmente as estressantes ou traumáticas – têm consequências intergeracional para o comportamento de crianças e saúde mental. Isso demonstra como nós carregamos nossas histórias conosco, e o que nosso estudo mostra é como isso tem implicações na paternidade e maternidade e na saúde das crianças”, disse o autor principal do estudo, Adam Schickedanz, instrutor clínico de pediatria na Escola de Medicina David Geffen da UCLA à ABC News.
O estudo ainda mostrou que quando as crianças tendem a ser mais afetadas negativamente quando foram as mãe, e não os pais, a sofrerem os traumas na infância. Os pesquisadores acreditam que isso se deve ao fato de que, na maioria das vezes, a mãe é a principal responsável pelo cuidado dos filhos.
Esta é a primeira pesquisa estudando a relação entre eventos traumáticos na infância dos pais e a saúde mental de seus filhos, e os pesquisadores querem aprofundar esse estudo. “Agora, nós estamos explorando se essas relações entre eventos adversos que passam de pais para filhos podem durar mais de uma geração. Na verdade, nosso próximo passo é examinar se traumas sofridos pelos avós podem afetar o comportamento dos netos”, disse Schickedanz. Outros estudos anteriores já haviam mostrado a relação entre uma infância problemática dos pais e maior risco de doenças crônicas e morte prematura em seus filhos.