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O paraíso cercado

Paiva, praia do apartheid, impede pernambucano de poder circular livre

Publicado

Autor/Imagem:
Acssa Maria - Foto Reprodução do X

O sol da manhã doura as areias finas da Praia do Paiva, e o mar desenha ondas suaves que beijam a costa. A brisa salgada, misturada ao cheiro de mata atlântica preservada, fazia qualquer um se sentir em um verdadeiro paraíso. Mas nem todo mundo parecia bem-vindo ali.

Ao caminhar pela orla, era impossível não notar o contraste. De um lado, os condomínios luxuosos se erguiam como fortalezas modernas, com seguranças atentos e câmeras piscando discretamente. De outro, a praia pública, teoricamente acessível a todos, mas onde os olhares de desprezo funcionavam como um cordão invisível de isolamento.

Os poucos nativos que se aventuravam a entrar nesse território pareciam estrangeiros em sua própria terra. Eram pescadores, ambulantes, famílias simples que, ao invés de serem acolhidas pelo mesmo cenário paradisíaco, eram vistas como intrusas. Seus corpos marcados pelo sol e pela luta diária destoavam dos visitantes de pele clara, protegidos por óculos escuros e protetores solares caros.

O incômodo, lá, é palpável. Sorrisos forçados, afastamentos sutis, olhares que gritavam o que as bocas não precisavam dizer: “este espaço não é para vocês”. As barreiras não são apenas físicas, como os portões e muros dos resorts, mas também sociais, culturais e raciais. O apartheid à brasileira, aquele que muitos fingem não ver, se manifesta ali, entre um gole de espumante e um mergulho na água cristalina.

E assim, a Praia do Paiva segue seu curso, bela, rica e segregada. O mar, indiferente às fronteiras invisíveis, continua a tocar a areia, lembrando que, no fim das contas, a natureza não pertence a ninguém… mas alguns insistem em tentar privatizar até mesmo o direito de existir.

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