Marta Nobre, Edição
Se Antônio Palocci sair da prisão, e Guido Mantega não for preso, ninguém deve se atrever a chamar os dois para jantar. Seria impossível, num hipotético encontro, sentar os dois ex-ministros da Fazenda de Lula e Dilma numa mesma mesa. A razão é simples: nas alegações finais ao juiz Sérgio Moro, a defesa de Palocci atribui a Mantega os repasses de dinheiro, via caixa 2, para a campanha da ex-presidente em 2014.
A acusação deixou o PT em alvoroço. O clima é de guerra de bastidores, e o maior temor agora é que Antônio Palocci parta para uma definitiva delação premiada e reforce ainda mais as acusações contra a cúpula do Partido dos Trabalhadores. Os pagamentos feitos à dupla de marqueteiros João Santana e Mônica Moura em bancos suíços, segundo a versão de Palocci, são de total responsabilidade de Mantega.
Mesmo não tendo citado expressamente Mantega, a defesa destacou trechos do depoimento de Marcelo Odebrecht que atribuíram ao ex-ministro a responsabilidade por gerir pagamentos endereçados ao PT a partir de 2011.
“Os valores constantes da planilha ‘italiano’ não eram destinados ao acusado, mas sim ao partido, de forma que, após Antonio Palocci deixar o governo, o montante passou a ser gerido por terceira pessoa”, disse, em referência indireta a Guido Mantega, e destacando depoimento de Marcelo.
“Não por acaso, todos os pagamentos realizados em favor dos corréus Mônica Moura e João Santana no exterior foram realizados a partir de 19.07.2011, período em que o acusado já não mais exercia cargo público algum, e durante o qual o crédito existente a favor do PT por ele já não era mais gerido, segundo o próprio corréu Marcelo Odebrecht”, concluiu.
Homem da mala – A defesa de Palocci pediu sua absolvição pelos crimes de lavagem de dinheiro e corrupção passiva. Os advogados apontaram o que consideraram ser inconsistências do depoimento do ex-funcionário do setor de propinas da Odebrecht, Fernando Migliaccio. A crítica foi centrada na quantidade de dinheiro em espécie que Branislav Kontic, seu assessor, supostamente teria buscado na Odebrecht.
De acordo com o executivo da Odebrecht, o assessor buscava pelo menos R$ 1 milhão em cada visita. Ele disse também ser possível guardar até R$ 3 milhões em uma mochila. Para apontar suposta inconsistência do relato, a defesa citou o caso do ex-deputado Rocha Loures, flagrado levando R$ 500 mil em uma mala.
“Como se sabe agora, R$ 500 mil ocupam o volume de uma mala média”, alegaram os advogados, para quem não seria possível guardar R$ 3 milhões em mochila, peça “com aproximadamente um terço ou pouco mais da capacidade da mala carregada pelo deputado paranaense”.
“A falácia contada pelo réu colaborador salta aos olhos. Esse fato demonstra, por si só, a inconsistência das alegações feitas pelo corréu delator”, escreveu a defesa nas alegações finais, documento com 192 páginas.