Num desses dias típicos tranquilos de primavera, enquanto o sol pintava o céu com tons dourados, um carro peculiar iniciou sua jornada pelas ruas da quadra. Era um veículo antigo, pintado de um amarelo vibrante, adornado com ilustrações de espigas de milho e sorrisos felizes. Esse carro era famoso por sua missão singular: vender pamonhas caseiras.
A saudade bateu em cheio no final dessa tarde de quarta, 25. Me veio à lembrança Casimiro de Abreu e seus ‘Oito anos’, falando dos agora velhos tempos de vida, de uma infância querida que os anos não trazem mais. O saudosismo tinha razão de ser. Era a passagem do pamonheiro. Pena que acabara de lanchar.
José, desde que me entendo por gente, fazia roncar suavemente o motor do seu carro, enquanto deslizava pela então rua de paralelepípedos, hoje uma mistura de buracos e asfalto. Lá ia ele ao volante, cabelos grisalhos e avental branco, acenando alegremente para os moradores.
O aroma inconfundível de pamonhas frescas flutuava pelo ar, atraindo a atenção de todos, desde crianças curiosas como eu fora um dia, até donas-de-casa e trabalhadores de volta de suas ocupações diárias.
O vendedor estacionou o carro em local estratégico, uma esquina movimentada junto a uma praça, e abriu uma pequena janela de atendimento lateral. Ali, ele exibia um cardápio simples, oferecendo uma variedade de pamonhas, de doce a salgada, cada uma recheada com os sabores mais deliciosos. Os clientes se aproximavam com sorrisos nos rostos, ansiosos para experimentar o prazer culinário das pamonhas recém-preparadas.
O dia seguia seu ritmo normal, numa mesma rotina de um canto de outro poeta que falava de gente humilde sentada em cadeiras na calçada do seu lar. E todo mundo comia as pamonhas ali mesmo, à sombra das árvores.
De repente, silêncio. É que o Sol já se punha no horizonte. Chegara o momento de o velho José preparar seu o carro com as pamonhas restantes. Ele partia deixando para trás a satisfação de mais um dia de deleites saborosos entregues à comunidade.
Ah, Casimiro! Ah, Chico! As saudades me dominaram. Me vi passando lentamente por um coreto da praça, enquanto ouvia a banda tocar. A aurora da minha vida voltou. Foi um sonho, acordei. Porque hoje não tenho mais tempo para viver a vida à toa.