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Pancadões burlam a lei, se espalham e o funk ganha as areias do litoral de São Paulo

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Reginaldo Pupo

Os “pancadões” chegaram às areias do litoral norte paulista Antes restritos a postos de combustíveis, praças e avenidas movimentadas da capital e do interior, onde potentes alto-falantes instalados em carros davam o tom da festa, os hits do funk agora dominam as praias em caixas de som portáteis. A nova estratégia burla a lei estadual que proíbe os bailes promovidos em vias públicas, uma vez que a legislação não veta a emissão de som fora dos carros, como nas praias.

O Estado percorreu trechos de areia com alta concentração de turistas em Caraguatatuba, Ilhabela e São Sebastião, desde o começo do ano, e observou que a prática já se espalhou pelas cidades a fim de evitar penalidades previstas em lei, como multa e apreensão de carros.

Na Praia Martim de Sá, a mais badalada de Caraguatatuba, os banhistas curtiam músicas na areia. Uma das caixas de som funcionava conectada à bateria de um carro estacionado na rua. As músicas tocadas ali concorriam com outras que eram executadas em um quiosque a menos de 20 metros de distância.

A cabeleireira Ana Julia Martins, de 28 anos, que mora na cidade, não gostou da novidade trazida ao litoral norte. “Estava deitada na areia, dormindo, e acordei quando chegaram esses turistas com som alto, tocando funk. Ninguém é obrigado a ficar ouvindo músicas que a gente não gosta, ainda mais com essas letras apelativas de sexo”, disse Ana Julia. Incomodada com a algazarra, retirou seus pertences e foi para outro ponto da praia.

Em Maresias, praia de São Sebastião, no primeiro dia de 2016, a reportagem contou nove grupos com os equipamentos em toda sua extensão. A estratégia de fugir da fiscalização se estendeu durante a semana.

A comissária de bordo Beatriz Guajardo, de 30 anos, que estava com um grupo de amigos de Botucatu, no interior paulista, admitiu que a manobra tinha o objetivo de driblar a lei. “Fiquei sabendo que não pode som alto no carro e a multa é pesada, então, peguei uma caixa de som emprestada do meu primo e trouxe para animar a galera”, disse na quinta-feira. Segundo ela, porém, não houve reclamação dos banhistas. “Na verdade, até chegaram junto da gente para curtir as músicas”, afirmou.

A menos de 150 metros dali, outro grupo tinha uma caixa de som. Embalados por uma música de Bob Marley, os quatro rapazes também fumavam maconha. “Aqui é terra de ninguém. Nada é feito. Somos obrigados a ficar ouvindo músicas de péssimo gosto e ainda sentir esse cheiro horrível”, disse o aposentado João Carlos Abdizel, de 71 anos, que caminhava com o neto de 11 pela areia, na frente dos jovens.

Para fugir das novas regras, há ainda quem deixa o carro na garagem e só aumenta o volume. Foi o que fez um estagiário de advocacia, que pediu para não ser identificado. “Meu carro não está na rua, portanto, não fere a lei”, disse. O imóvel fica na frente da Praia de Massaguaçu, em Caraguatatuba.

Bom senso – A moda de ouvir som em caixas portáteis ganhou adeptos neste verão justamente depois de o governador Geraldo Alckmin (PSDB) sancionar a lei que veta o pancadão em todo o Estado, em dezembro.

Mas nem todo mundo abusa. O empresário Paulo Caputti, de 51 anos, por exemplo, disse ter o bom senso de deixar o som em baixo volume para não incomodar os banhistas que estão nas proximidades.

Morador da capital, ele costuma ir à praia munido de um notebook e, por meio de um programa de DJ, escolhe as músicas que são executadas na caixa portátil. “Tem música aqui para o dia inteiro”, disse Caputti.

“Praia sem música não é praia”, justificou sua mulher, Sarita Caputti, de 55 anos, que trabalha como secretária. “Outros turistas que estavam ao nosso lado, da cidade de Paulínia, e tinham um violão, acabaram se juntando a nós e fizemos um som, com direito a cantoria com microfone”, contou. Para o funcionamento do notebook, o casal usa duas extensões, de 20 e 30 metros, conectadas à energia elétrica de sua casa, na frente da praia.

estadao

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