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Pandemia ameaça matar turismo brasileiro

Um dos setores que mais estão sendo afetados pela pandemia, o turismo revive a incerteza diante das novas medidas de isolamento que vão sendo impostas em várias partes do país.

Empresários do ramo pedem celeridade na tramitação do Projeto de Lei 5638 que, entre outras medidas, traz o parcelamento de dívidas de tributos e linha de crédito para o setor.

Para discutir o tema, a Sputnik Brasil conversou com Mariana Aldrigui, professora de Turismo da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (USP). Ela começou explicando que eventos de turismo e a grande massificação do turismo se dá nas faixas mais jovens dos grupos que precisam de vacinação, e enquanto isso não ocorre o setor passa por momentos difíceis.

O ministro do Turismo, Gilson Machado, se reuniu recentemente com grandes empresários do setor de festas, eventos e entretenimento no Rio de Janeiro, quando discutiu diversos projetos para minimizar o impacto sofrido por este ramo da economia, que precisou adiar ou cancelar 98% dos eventos, devido à pandemia, conforme matéria publicada pela CNN Brasil.

O ministro previu que, dependendo do ritmo de vacinação, perto do final do ano, no mês de setembro, o setor possa voltar ao normal.

“Com relação à autorização de eventos a partir de setembro deste ano, segundo o governo federal é de que eles estariam sim autorizados, mas governadores e prefeitos são aqueles que estão lidando com o problema na ponta, e são eles que vão nos responder melhor essa pergunta”, avaliou a especialista.

Mariana disse que em nenhum outro país do mundo, mesmo como é o caso de Israel, fala-se de eventos de grandes aglomerações. O que se tem é a autorização gradativa de espaços controlados como cinemas, teatros, museus e restaurantes, principalmente. “Não acho que seja uma questão de que seja cedo ou tarde de autorizar, mas se há tempo para o organizador a realização de um evento”.

A maioria dos eventos, segundo a professora de turismo, demanda tempo para ser organizado, e se fosse acontecer em setembro, seria preciso começar agora a planejar toda a cadeia de fornecedores, patrocínio e profissionais envolvidos. “É muito inseguro trabalhar com isso agora, o mais correto seria fazermos todos os esforços para a campanha de vacinação, para que de fato atinjamos mais gente”.

Em relação a PL 5638, para Mariana ela não é uma medida suficiente para salvar o turismo. Há empresas que foram devastadas, com pessoas desempregadas e sem acesso ao auxílio emergencial. Muitos que tiveram mais resiliência procuraram sair do setor e se vincular a outras áreas, como a de tecnologia.

“Quem tem fôlego e consegue se beneficiar sobrevive talvez mais alguns meses, eventualmente até o final desse ano. Mas há um grande desconhecimento da dinâmica do setor, e as ofertas que são feitas por parte do governo são insuficientes, em função, claro, da necessidade de alocar recursos em outros setores”, avaliou

Segundo a especialista, se houvesse mais informações e mais alternativas de apoio entre empresas, de renegociação de dívidas, de adiamento de pagamento de impostos isto poderia dar mais fôlego ao setor. O problema é que as informações sobre a pandemia fornecidas pelo governo mudam toda semana, impossibilitando os empresários de se planejarem para os meses seguintes.

O setor vai conseguir?
O turismo brasileiro teve prejuízo de R$ 270 bilhões de março a dezembro de 2020. Cerca de 640 mil empresas e dois milhões de microempresários dependem das atividades do ramo para sobreviver. Ao todo, três milhões de pessoas que trabalhavam no setor perderam os empregos em todo o país. A arrecadação com festas, eventos e entretenimento representa 13% do PIB do país.

“O turismo sempre sobrevive, ele vai se adequando às circunstâncias. Mas o desejo de viajar das pessoas permanece, e cada vez é mais intenso. Quando tivermos autorização para viajar com segurança todos nós viajaremos e veremos o boom do setor, e isso é cíclico, o turismo sempre volta depois das piores crises”, avaliou Mariana.

A especialista disse que o retrato do setor é de uma retração de pelo menos um terço, tanto em faturamento como em movimentação de pessoas, inclusive de empregos. O mês de janeiro mostra uma retração de 35% em relação ao ano anterior, em um momento em que o setor deveria estar se recompondo devido às férias.

“Nossa indignação é como isso não foi levado a sério [a pandemia]. Tendo tomado as medidas corretas e seguido as orientações não estaríamos vivendo isso agora. É muito desesperador ver tantos colegas, tantos profissionais sem alento e sem esperança”, desabafou Mariana.

Para ela, o ano de 2021 vai ser novamente de turismo doméstico, de proximidade, usando hotéis e pousadas ou casa de amigos e parentes, sem muitas despesas extras, com menor movimentação financeira, mas com impacto positivo nas pequenas cidades.

Em relação ao turismo internacional, a especialista finalizou dizendo que por algum tempo o brasileiro vai ser persona non grata, até que se possa dizer com todas as palavras e evidências para o mundo que “não somos transmissores de uma variante mais contaminantes e podemos ser bem-vindos nos demais países”.

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