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Pandemia está deixando os cães amargurados

Um artigo recém-publicado pela Universidade de York mostrou a diminuição da qualidade de vida dos cães do Reino Unido. O mesmo não foi visto para gatos, que tiveram o bem-estar aumentado durante a pandemia de Covid-19.

Com o início do isolamento social, em 2020, por conta da pandemia de COVID-19, os tutores deixaram ou diminuíram muito os passeios com os cães. As saídas não servem apenas para fazer exercício físico e gastar energia do cão, mas para socialização. Sem encontrar outros cães e pessoas diferentes os cachorros podem ficar mais medrosos e arredios. Como consequência podem até apresentar reatividade.

Inclusive, fui atender um buldogue francês “filho da pandemia”. Ele nasceu em fevereiro de 2020 e sua fase principal de socialização (até os 4 meses), ele estava fechado em casa. Hoje, com mais de um ano, o cão é medroso, apegado em demasia aos seus tutores, reativo com pessoas, late para outros cães e tem brincadeiras muito intensas, sem saber se comunicar adequadamente. Tem como trabalhar tudo isso, mas leva bastante tempo, já que ele “pulou” a fase principal de socialização.

A grande questão é que não apenas o ambiente influencia no comportamento do cão, mas as pessoas que convivem com ele. O confinamento pode ser maléfico ao cão, mas é ainda pior para os humanos. Com o home office, os tutores passaram mais tempo com seus animais, mas a qualidade da relação poderia não ser a mesma. Já que muitos passaram a trabalhar mais horas, quando comparado àquelas trabalhadas no escritório.

O lado positivo de tudo isso, segundo o médico-veterinário e gerente de marketing da Zoetis, Alexandre Merlo, é o fato dos tutores terem mais tempo para observar seus animais. “Muitas vezes os cães apresentavam problemas de pele, com coceiras, mas, como o tutor passava longas horas longe do animal, não percebia a intensidade do prurido” conta.

As cirurgias eletivas, como as castrações, diminuíram em número, mas a busca ao veterinário por queixas ante menos observadas, aumentou. “Os sintomas para problemas cardíacos (como a tosse) e de pele (como a coceira), que depende da observação do comportamento do cão, puderam ser relatados em seu início, facilitando o tratamento das doenças” aponta Merlo.

O mesmo aconteceu com o comportamento. Algumas atitudes, antes toleradas pelos tutores, durante a pandemia se tornaram inaceitáveis. O que aumentou a procura por profissionais do comportamento.

Além disso, o estudo conduzido pela Universidade de York, apontou que houve mudança de comportamento de cães e gatos. Alguns tutores relataram que seu cães e gatos passaram a segui-los mais pela casa. Principalmente no caso dos cães, isso não é algo positivo, já que pode denotar apego inseguro. Ou seja, o cão segue o tutor já que ele e torna uma figura de segurança e sem ele o cão se sente muito desconfortável. Isso também ser decorrência do aumento da necessidade de contato dos humanos. Sem poder se relacionar com outras pessoas, o tutor buscava o cão para preencher essa lacuna, fazendo com que essa relação se tornasse cada vez mais de dependência.

Já no caso dos gatos, os tutores passaram a dar mais atenção, brincar mais e compreender mais suas necessidades. Como consequência, os felinos passaram a se comunicar mais com os humanos, principalmente com miados de solicitações (comida, por exemplo). Possivelmente essa maior interação aumentou a empatia dos humanos pelos gatos, elevando também o bem-estar dos bichanos.

Uma pergunta que diversos profissionais vêm fazendo é como será o cenário dos pets após a pandemia. Baseado em alguns números e pesquisas, já podemos observar sinais que preocupam.

Devido ao isolamento, muitos tutores evitaram de sair de casa, que não fosse caso de emergência. Por isso, a vacinação, em muitos casos, foi postergada. Merlo aponta que a medicina preventiva como um todo foi deixada um pouco de lado. “Houve um afrouxamento com as avaliações de saúde e check-ups. Tanto a vacinação com o uso de antipulgas foi colocado em segundo plano durante a pandemia. Isso pode gerar um grande problema de saúde para pets e humanos. Agora é o momento de voltar os olhos para a prevenção, vacinar os animais, fazer a vermifugação e levar para consulta com o médico-veterinário” alerta.

Outro ponto de alerta é o apego dos cães a seus tutores. Com o retorno paulatino ao trabalho presencial, os pets passarão a ficar mais tempo sozinhos. O que pode aumentar os casos de sintomas vinculados à separação, como latidos, destruição, eliminação em local inapropriado, automutilação e até apatia.

Mesmo longe de casa, é imprescindível que tutores mantenham a atenção em seus pets para, mesmo com menos tempo de interação, elevar a qualidade da interação, levando em conta o bem-estar dos pequenos, principalmente quando sozinhos.

Resumindo: se prepare para voltar a trabalhar fora de casa. Não deixe para a última hora os cuidados com seu animal de estimação. Não se baseie em receitas milagrosas da internet ou no que seu amigo falou. Consulte sempre o médico-veterinário.

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