O papa Francisco admitiu nesta terça-feira sentir dor e vergonha pelos abusos sexuais cometidos por membros da Igreja contra crianças no Chile, pedindo perdão e se comprometendo a apoiar as vítimas e a se esforçar para que os fatos que abalaram o país não voltem a acontecer.
Durante cerimônia no palácio presidencial de La Moneda, onde foi recebido pela presidente chilena, Michelle Bachelet, o papa fez seu primeiro pronunciamento no país, marcado por uma “mea culpa”, em uma tentativa de recuperar a credibilidade da Igreja Católica no país.
“Não posso deixar de manifestar a dor e vergonha que sinto perante o dano irreparável causado a crianças por parte de ministros da Igreja”, disse Francisco durante discurso para autoridades do Estado chileno.
“Quero me unir a meus irmãos no episcopado, já que é justo pedir perdão e apoiar com todas as forças as vítimas, ao mesmo tempo em que temos que nos esforçar para que isso não volte a acontecer”, acrescentou.
O reconhecimento acontece no momento em que um grupo de fiéis mantém críticas contra um bispo chileno acusado de proteger um clérigo influente acusado de repetidos abusos sexuais contra menores.
Os escândalos levaram a algumas manifestações planejadas contra a presença do pontífice, que chegou na segunda-feira ao Chile para uma visita de quatro dias, nos quais irá se dirigir não só a católicos mais fervorosos, mas também a indígenas e imigrantes que pedem um tratamento mais justo em um país onde a desigualdade é um persistente flagelo.
Desde a madrugada, milhares de devotos católicos acamparam com sacos de dormir e cobertores no Parque O’Higgins, uma das maiores áreas arborizadas de Santiago, para escutar à primeira grande missa do papa, que terá presença de até 500 mil pessoas.
“Saímos muito cedo, viajamos de San Francisco de Mostazal (ao sul de Santiago), chegamos à 4h da manhã na entrada no parque. Chegamos aqui e não nos movemos mais”, disse Angelina Soto, dona de casa de 67 anos, que viajou com sua filha e sua irmã.
“Acredito que isto vai mudar um pouco a comunidade dos chilenos, para que sejamos mais generosos, que a brecha social diminua um pouco, é o mais feio aqui no Chile”, acrescentou.
O primeiro papa latino-americano, que nasceu na Argentina e viveu cerca de um ano no Chile durante sua juventude, admitiu no voo a Santiago que sente proximidade com o país, onde irá permanecer até quinta-feira, para então viajar ao Peru.
Esta é a segunda visita de um papa ao país majoritariamente conservador. O papa João Paulo 2º visitou o país em 1987, no rescaldo da ditadura de Augusto Pinochet, uma época marcada por violações dos direitos humanos e pela pobreza.
Mas agora Francisco visita uma nação que busca alcançar o matrimônio igualitário, igualdade para as mulheres, respeito à identidade de gênero e à imigração, através de iniciativas impulsionadas pela presidente socialista Michelle Bachelet.
E também onde os católicos se reduziram em quase um terço nas últimas duas décadas, segundo pesquisa da Latinobarómetro.
Antes da grande missa às 10h30, no horário local, Francisco irá visitar o palácio presidencial, onde irá fazer sua primeira mensagem à nação. Foram convidados à cerimônia autoridades de diferentes poderes do Estado e também o presidente eleito, o multimilionário de centro-direita Sebastián Piñera, que irá assumir em março.
Depois o pontífice e Bachelet terão uma reunião particular.
Para a mesma hora em que o papa participa dos atos no Palácio de La Moneda, grupos e minorias convocaram uma marcha pelos pobres e para se queixarem dos quase 17 milhões de dólares em gastos com segurança, logística e organização para a visita de Francisco.
Na madrugada desta terça-feira, duas capelas no sul de Cunco, na região de Araucanía, foram destruídas e outra paróquia em Santiago também foi atacada.