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Papel da mulher ficou banalizado; é preciso mudar isso, diz Eliana

A pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) indicando que 65% dos entrevistados num universo de 3 mil 810 pessoas entende que a mulher que mostra o corpo merece ser seviciada, serviu de um alerta e ao mesmo tempo fez brotar o sentimento de preocupação nos mais diferentes segmentos da sociedade.

Em Brasília, a deputada Eliana Pedrosa (PPS) lamentou o resultado da pesquisa. O papel da mulher, escreveu a parlamentar em artigo, foi banalizado e isso precisa mudar. “Neste momento, o resgate da família, da dignidade humana e da mulher se faz necessário”, proclamou.

Veja o texto assinado por Eliana Pedrosa:

Nesta semana, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou uma pesquisa que mostrou uma triste e preocupante realidade na nossa sociedade. Para 65% dos entrevistados, em um universo de 3.810 pessoas, “a mulher que usa roupa que mostra o corpo merece ser atacada”. Ou seja, mais da metade da população brasileira acha que o estupro se justifica por conta da roupa que a mulher usa. A pesquisa, como toda ferramenta científica, revela muito mais que apenas a frieza dos números.

Nas últimas décadas, a música e a dança impuseram padrões à mulher brasileira. Dançar “na boquinha da garrafa” foi febre no fim dos anos 90. As saias, os shorts femininos e tudo mais diminuíram. As famílias aceitaram a imposição do mercado, da mídia e da moda. Ao mesmo tempo, a cultura do “vale tudo” foi ganhando espaço com programas cada vez mais ousados em horários nobres da TV brasileira. O resultado disso tudo é constatado agora: a banalização do direito e do papel da mulher.

É triste ver que mais da metade dos entrevistados acredita mesmo que a culpa do ataque à mulher é dela mesma. E o que é ainda mais chocante nesta pesquisa é que das 3.810 pessoas ouvidas, 66,5% são mulheres. Ou seja, a mulher acredita que a culpada pelos encoxamentos (como ficou popularmente conhecido esse crime), pelas mãos bobas e até pelos estupros é a própria mulher. Parece brincadeira de péssimo gosto, mas é uma realidade constatada pelo Ipea.

A grande questão, ao analisamos a pesquisa, é procurar saber em que momento a família brasileira perdeu a noção do crime contra a mulher e os motivos que levaram a isso. A partir do momento que a mulher é responsabilizada pelas próprias mulheres pelo ataque dos homens, significa que algo está errado. Sou mulher. Admitir que nós mesmas somos as culpadas pelos ataques dos homens é admitir que todo direito conquistado até agora, a duras penas, não nos mostrou nada. Não significou nada. Ainda somos um pedaço de carne sujeitas a um discurso politicamente correto, mas sem aplicação prática.

Neste momento, o resgate da família, da dignidade humana e da mulher se faz necessário. E que nós, mulheres, possamos ter uma visão menos distorcida sobre nossa própria imagem e mais humanitária. O crime do encoxamento, as mãos bobas, os estupros ou qualquer outro tipo de sabotagem contra a mulher jamais serão responsabilidade da mulher, mas sim de algum bandido, que merece responder pelos seus atos.

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