Sete candidatos ao Palácio do Buriti, selecionados a dedo, participaram nesta terça, 28, de um debate promovido pelo jornal Correio Braziliense. O critério para escolha dos debatedores é questionável, acusam simpatizantes de outras candidaturas. Pouca gente entendeu ficar de fora, por exemplo, nomes como o do general Paulo Chagas (PRP) e Alexandre Guerra (Novo). Mas, como parece ser tudo farinha do mesmo saco (os que lá estiveram) as farpas foram gerais, mesmo que minimizadas. Ninguém ganhou. E quem se dedicou a assistir, parece não ter gostado muito do que viu e ouviu.
O evento fez lembrar papo de Candinhas em suas respectivas janelas. O tom foi amistoso, salvo uma ou outra artilharia. E todos eles, sem exceção, não souberam apresentar propostas concretas para problemas que afligem a sociedade, como saúde, segurança, educação, transportes e habitação.
Quem esteve lá foram Rodrigo Rollemberg (PSB), Alberto Fraga (DEM), Eliana Pedrosa (Pros), Fátima Souza (PSol), Ibaneis Rocha (MDB), Júlio Miragaya (PT) e Rogério Rosso (PSD). Veja como foi, resumidamente, conforme texto do próprio Correio:
Propinas – A primeira parte do debate foi feita com jornalistas do Correio perguntando aos candidatos. O ponto alto dessa etapa foi o confronto entre Rosso e Fraga. Tudo começou com a afirmação do democrata, de que havia um vídeo em que Rosso teria recebido dinheiro de propina. “Infelizmente, Fraga mentiu (…) eu fui honesto sempre. A honestidade fará parte do meu governo, acima de tudo”, afirmou ele Rosso, acrescentando que não existe o tal vídeo. Em resposta ao deputado do PSD, Fraga respondeu: “Não menti”.
Rollemberg, ao ser questionado sobre a elevada taxa de rejeição entre os moradoresdo DF desconversou. Ele afirmou que todos os políticos são rejeitados. Ibaneis, apesar de ter em seu partido uma lista extensa de políticos investigados ou condenados por corrupção, reforçou ser o “novo” dentro da política, por ser da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
Miragaya, em vez de apresentar propostas, preferiu defender a inocência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está preso em Cuririba, por já ter duas condenações na segunda instância.
Segundo bloco – Na segunda parte do debate, cada candidato podia escolher para quem faria a pergunta. Ambos os candidatos “se enfrentariam” no centro do estúdio. Pouco antes do início desse bloco, o democrata Fraga comentou nos bastidores “Agora é fight”, ao fazer referência à modalidade do confronto.
O atual governador, Rodrigo Rollemberg, foi novamente o alvo das críticas dos demais candidatos. Ao ser questionado pelo petista sobre quem ele era, porque não havia coerência em seu governo, pois ele foi aliado do PT no passado e agora mudou o discurso. Na resposta, o governador afirmou ser um político coerente. “Tenho 33 anos no mesmo partido político e quero dizer que quem mudou foi o PT. Tenho trajetória de coerência”, acrescentou ele, citando que teve coragem de abrir a Orla do Lago Paranoá. “Eu mantenho a coerência”, afirmou novamente. O petista, na réplica, voltou à questão da rejeição do atual governador. “Infelizmente não é a realidade que a gente vê com a avaliação do governo”, disse.
Fraga foi além, ao destacar que a pior área no DF é a saúde e não a segurança pública. Neste momento, pediu para Rollemberg renunciar. “Estamos vivendo um pesadelo. Brasília nunca esteve tão abandonada”, declarou o democrata durante a dobradinha combinada com Ibaneis para criticarem o governador. O emedebista, por sua vez, reforçou o problema do custo da folha de pessoal e afirmou que contratará a Fundação Getulio Vargas para fazer uma auditoria disse que é melhor que ele fique para que eles possam atacá-lo.
“Prefiro que o governador fique para que a gente possa contrapor e mostrar quem tem mais propostas”, frisou. Na sequência, ao criticar a derrubada de casas irregulares nas margens do Paranoá, o democrata ainda afirmou que acabará com a Agefis no primeiro dia de governo e vai regularizar as terras dos grileiros. A frase provocou um burburinho na plateia do auditório.
“Mágico de Oz” – Um dos principais embates na segunda rodada ocorreu entre Rollemberg e Rosso, que terminou com um chamando o outro de mentiroso. Enquanto o governador reforçava o discurso de que teve que arrumar a casa, o que, segundo ele, gerou recursos para a expansão do metrô a Samambaia, aproveitou para criticar a promessa do deputado federal de que dará aumento ao funcionalismo e ainda equiparará os salários dos policiais.
“Imagino que, como secretário de Fazenda, o senhor terá o mágico do Oz ou o Papai Noel, porque, de onde o senhor vai tirar dinheiro para esse aumento? Isso é demagogia!”, afirmou Rollemberg, acrescentando que, se for conceder reajuste para 32 categorias do GDF, serão necessários R$ 4 bilhões. “Isso vai quebrar o DF antes do aniversário de Brasília”, acrescentou.
No inicio do terceiro bloco, Rollemberg teve um pedido de resposta concedido, de 45 segundos, após ter sido chamado de mentiroso por Rosso e afirmou novamente que não há recursos para a concessão de todos os benefícios prometidos pelo parlamentar. “Você que está me escutando, os números que dei são absolutamente verdadeiros. Quero mostrar meu apreço aos servidores públicos”, afirmou ele, acrescentando que instituiu a licença paternidade de 30 dias e que contratou 12 mil servidores.
Nessa etapa, os candidatos continuaram escolhendo para quem perguntar sobre propostas. Rollemberg sobrou. Fraga chamou Rosso para comentar saúde pública. Miragaya chamou Fátima Souza para questionar sobre a estratégia para gerar emprego para a população e encenou uma bola dividida de novas críticas ao governo atual. Durante o comentário, evocou a frase do presidenciável Guilherme Boulos (PSol) sobre “os cinquenta tons de Temer”.
Na sequência, Ibaneis chamou Miragaya e enquadrou o petista lembrando que as duas legendas participaram da mesma chapa em 2014. “Temer veio com Lula e os dois estão em uma situação muito difícil”, declarou o emedebista questionando o petista se ele era a favor da Lava-Jato. Em sua resposta, Miragaya voltou a defender o ex-presidente e Ibaneis aproveitou a deixa e foi enfático: “Fica bem claro que Júlio é contra o combate à corrupção”, disse. Miragaya respondeu: “Eu sou a favor de Lula.”
Eliana Pedrosa fez tabelinha com Rosso para criticar a administração de Rollemberg na saúde. E Fraga, apesar de elogiar a medida do governador em acabar com o lixão, criticou novamente a atuação da Agefis em relação à comunidade de Santa Luzia. “Você da uma bola dentro e cinco fora”, resumiu o democrata.
Fim de conversa – No ultimo bloco do debate, das considerações finais, Rollemberg foi o sorteado para abrir essa etapa. Ele admitiu que enfrentar os oponentes tem sido um “embate difícil” durante os últimos quatro anos de governo. “Foram muitas madrugadas em claro pensando em como pagar os servidores públicos, os terceirizados”, destacou. Se reeleito, prometeu universalizar as creches do DF, dar atenção primária à Saúde da Família e concluir as obras iniciadas em seu projeto para Brasília, como o metrô de Samambaia e o BRT Norte.
Rosso, por sua vez, aproveitou para criticar o governador. “Eu me somo aos 80% que não se enxergam no governo. Eu me somo àquelas famílias que não conseguem espaço nos hospitais. As nossas escolas estão sucateadas. Nunca teve tanto desemprego no DF. Tenho muita fé que, no meu governo, já na transição, essa história começará a ser diferente”, afirmou.
Fraga aproveitou o discurso final para citar o ex-secretário de Saúde, Jofran Frejat, que preferiu não disputar a eleição, e criticar o crescimento da violência contra a mulher no DF. “Tenho a sorte de ter ao meu lado um dos melhores especialistas na área de saúde. Tenha você certeza de que ele estará ao nosso lado. Sou um dos autores da lei do feminicídio e não posso ficar conformado com a vigésima mulher assinada nesse governo. O Rollemberg prometeu proteção às mulheres. Foram quase 15 mil ocorrências de violência contra a mulher. Isso não é cuidar das mulheres”, disse ele, prometendo criar a delegacia da mulher em Ceilândia.
Eliana Pedrosa elogiou o debate e afirmou que a discussão foi de “alto nível”. “Hoje no DF nós estamos com os serviços prejudicados e nosso programa é de uma gestão mais eficiente, que traz celeridade e é voltado para o lado social, o lado dos empregos de todas as faixas etárias, dos jovens, das mulheres, principalmente, das mulheres negras e das que criam seus filhos com muita dificuldade”, afirmou.
Fátima Souza aproveitou o discurso final para criticar novamente Rollemberg e afirmou haver “ausência de honestidade” do governador sobre o Saúde em Casa. “O PSol nunca governou o DF e não vamos assumir essa responsabilidade que não nos cabe”, disse ela, destacando que o governo, de forma geral, está devendo às mulheres e que quem vai cuidar das mulheres é ela.
Por último, Miragaya, ao encerrar o debate que levou pouco mais de duas horas, prometeu colocar Brasília “de volta aos eixos” e exaltou o PT em nível federal ao se dirigir ao eleitor, sem citar nominalmente o ex-governador Agnelo Queiroz. “Você sabe muito bem que quem cuida do trabalhador e do povo é o PT. Todos sabem que a criação do Bolsa Família, a criação de 12 milhões de empregos com carteira assinada, a valorização do salário mínimo, que mais que dobrou, todas essas melhorias aconteceram no governo Lula, nos governos do PT, aqui no Distrito Federal”, finalizou.