Julia Affonso e Ricardo Brandt
No dia 17 de março, o juiz federal Marcos Josegrei da Silva, de 45 anos, acordou mais cedo. Gaúcho de Porto Alegre, chegou às 9 horas ao trabalho, no aprazível bairro do Ahu, em Curitiba, na sede da Justiça Federal. Era sexta-feira e a Operação Carne Fraca estava nas ruas. Desde as 6 horas, um exército de 1.100 policiais cumpria 186 mandados de busca e apreensão e 38 de prisão, em sete Estados do Brasil.
A ordem era de Josegrei – um carnívoro devoto – e determinava que fossem presos fiscais do Ministério da Agricultura, empresários e executivos do setor de carnes e processados. Todos suspeitos de manterem um esquema de corrupção e fraudes em fiscalizações dos alimentos produzidos no Paraná, Goiás e Minas Gerais.
Menos conhecido que seu vizinho de andar, o juiz federal Sérgio Moro, da 13.ª Vara Federal, Josegrei ainda não vislumbrava naquela manhã os reflexos negativos que a operação provocaria.
Não é a primeira operação de repercussão nacional deflagrada por Josegrei. Titular da 14.ª Vara Federal de Curitiba desde 2012, foi ele quem mandou prender um grupo de supostos terroristas, em 2016, alvos da Operação Hashtag, e também supostos desviadores de R$ 7 milhões de recursos de bolsas de estudo, na Universidade Federal do Paraná, e este ano, a Operação Research.
Josegrei afirmou que, para os indícios que foram coletados nesses dois anos de investigação, entende que as medidas decretadas eram as adequadas para permitir o avanço das apurações. Ele afirmou que não tem nenhum reparo a fazer. Josegrei disse que não pode afirmar que houve erro da Polícia Federal, mesmo porque não acompanhou a íntegra da entrevista coletiva.
O juiz federal disse que percebeu que a repercussão, em um primeiro momento, teve como ponto central a questão da qualidade dos alimentos de origem animal e as possíveis implicações da falta de observância dos padrões sanitários pelos frigoríficos. De acordo com Josegrei, o fato é que o tema da corrupção está cada vez mais presente no debate nacional.
Segundo o juiz, quando se tem a possibilidade de repercutir diretamente no alimento e, por consequência, na saúde das pessoas, o apelo é maior ainda. “Deduzo que a intenção da PF era a de informar ao público sobre aquele trabalho policial. Mas o tema era evidentemente sensível e acabou provocando toda essa repercussão intensa”, declarou.
“A operação policial foi o tempo todo acompanhada pelo Ministério Público Federal e pelo juízo. Era necessário coletar indícios suficientes para justificar a concessão pela Justiça de medidas mais contundentes, como aquelas cumpridas no último dia 17. Isso leva tempo. Não há, até agora, indícios de que, no período de investigação, a saúde dos consumidores tenha sido posta em risco em virtude do tempo decorrido do seu início desde a deflagração”, garantiu.