Notibras

Para Lula, Dino cobra corner, mata no peito e marca o gol

No altar frágil das honrarias fantasiosas, o maior perigo é o despenhadeiro da inutilidade. Pior ainda são as homenagens inoportunas a falsos e irrecuperáveis ídolos. Depois da indicação de Flávio Dino de Castro e Costa para o Supremo Tribunal Federal, os senadores da oposição começaram a se assanhar moribundamente para derrubar o também senador eleito e ora ministro da Justiça e Segurança Pública. Nos discursos, os raivosos deixam claro que trata-se de uma ordem superior, isto é, o pedido vem de cima.

E quem é que manda nos rapazolas deslumbrados da Câmara Alta, inclusive no ex-juiz Sérgio Moro, que fracassou na caminhada rumo ao STF? O mito das trevas, aquele mesmo que saiu da Presidência da República, mas a Presidência não sai dele.

Triste e trágico, mas verdadeiro e até cômico. Sugiro que o ainda ministro da Justiça espere um pouco mais para tirar as medidas da toga. No entanto, a complicada empreitada da tropa golpista não tem chance de prosperar. Tudo bem que a política é a arte do possível. Como não tenho bola de cristal, não posso afirmar que a reversão da indicação é impossível.

Todavia, cravo na improbabilidade, considerando que boa parte da Casa já está fechada para aprovar o nome do escolhido do presidente Luiz Inácio para a vaga da ministra Rosa Weber. Será mais uma bola fora dos aloprados seguidores do mito de coisa alguma. Vale registrar que Dino será o sexto ex-ministro da Justiça a tomar assento no STF desde a redemocratização.

Antes dele, lá estiveram Paulo Brossard e Maurício Correia, ambos falecidos, Nelson Jobim e os atuais Alexandre de Moraes e André Mendonça. Sérgio Moro morreu na praia. Mas por que Flávio Dino assusta tanto e causa alucinações e frenesis na bancada do mito? Simples. Politizado, inteligente, articulado, sem medos e sem rabo preso, como governador e como ministro, ele foi um dos poucos políticos com coragem para enfrentar o ex-presidente jubilado e bater de frente com os bolsonaristas que encontrava na calçada.

Ser aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça e posteriormente pelo plenário do Senado é o primeiro passo para que o ministro bom de voto e ótimo de conhecimentos políticos e jurídicos mostre ao Brasil que pode ser útil onde o colocarem.

É o tal que joga nas 11. Como juiz federal, deputado federal, governador, senador e titular da pasta da Justiça, ele já demonstrou que, caso haja necessidade, ele bate escanteio, mata no peito e fuzila no gol. Realmente, a vaga não poderia ser de outro ou de outra.

Sem margem de erro, reitero que a indicação de Flávio Dino representa a tranquilidade presente e futura do presidente Lula que, mesmo com a independência que o atual ministro da Justiça precisa ter como representante da Corte Suprema, terá no STF mais um magistrado para chamar de seu. Daí o frisson orgástico dos oposicionistas de ocasião.

A sabatina na CCJ deve ser rápida, conforme promessa do presidente do colegiado, senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), reempoderado por Luiz Inácio. Até lá, Dino tem sido aconselhado a mostrar aos senadores um perfil mais técnico e menos político.

Sem papas na língua e muito apegado aos santos de luta, não sei se ele conseguirá. O que tenho certeza é que o mix de inteligência e experiência de que dispõe fará dele o principal antagonista dos ministros levados à Corte exclusivamente por conta da terrível religiosidade evangélica. O cabresto foi apenas a consequência creditícia da indicação. Sem indução a qualquer outro sentido, Flávio Dino se transformará rapidamente em um dos pesos pesados do STF.

De notável saber jurídico e ilibada reputação, em pouco tempo o ministro da Justiça estará de volta às origens. Ana Paula Lobato (PSB) o substituirá no Senado, herdando um mandato de sete anos e dois meses. Embora no Ministério da Justiça a lista tenha quatro nomes masculinos fortes, sua sucessora na pasta também poderá ser uma mulher: Simone Tebet ou Gleisi Hoffmann.

Na sucessão presidencial, caso Luiz Inácio manifeste algum impedimento, o caminho está liberado para Fernando Haddad. Enfim, como cravei no início de outubro, Flávio Dino vai para o Supremo. A posse deverá ocorrer em fevereiro. Para Lula, valeu mais um seio na mão do que dois no sutiã.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

Sair da versão mobile