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O cogumelo zebú

Parada psicodélica faz dormir e viajar como nunca imaginou

Publicado

Autor/Imagem:
Gilberto Motta - Texto e imagem

1.
Na fumaça do cigarro, o tempo de tudo e imagens desconexas.

Viajei pela a História – e pela minha história pessoal-, por algumas décadas antes e depois.

Tudo ainda desconectado.

A perda da noção do tempo “dos homens” é, por vezes, fundamental.

O cara piscou os olhos e procurou o foco.

Nada.

Tudo ainda embasado.

Colocou uma música no notebook:

“Faz de conta que ainda é cedo… como um dia de domingo”

Atordoado e cheio de emoção, pensou:

“O que acontece depois de anos e anos em nossas vidas? O que podem as lembranças realizar com nossos sentimentos? O que ocorre? O que se passa?”

2.
Saiu logo no início da manhã e pegou a trilha do Costão.

Passo a passo, meio ainda tropeçando, rumou para o Vale da Utopia.

Pela trilha foi encontrando sinais dos tempos: uma cobra verde passando

zingrando pela areia; duas Marias-Joanas brincando de fazer amor; um urubu comendo os restos da gaivota que sucumbiu; flores e perfumes inacreditáveis. Tropeçou e desceu rolando pela duna de entrada na praia do Maço e logo chegou até a Ponta das Andorinhas.

Deitou-se embaixo de uma pequena árvore e dormiu.

3.
Sonhou com dragões do mar, sereias que viriam para seduzi-lo, com coisas tão disformes e múltiplas que jamais conseguiria contar.

Acordou, mergulhou no grande Atlântico e aqueceu-se ao sol de verão.

Retomou a trilha.

Mas sem achar o Grande Cogumelo Zebú.

Paciência. Coisas da trilha.

O cara nem era dado a essas paradas psicodélicas, mas sabia dos lances e isso lhe provocava imensa curiosidade.

Tocou os passos em frente.

Desceu na Praia de Cima e tropeçou na pedra ao pisar na areia.

4.
Na descida da rua, ao pé do morro, parou no Bar do Zé. Tomou um goró, uma cerva gelada e ficou ouvindo as histórias do Zé.

“Amigo, tem vez que é assim…tem vez que não é… lembra que há uns anos quando o senhor chegou aqui e a gente se falou…contei o lance dom Cogumelo Zebú do Vale da Utopia?… pois então…ainda está lá… ninguém achou ainda. Será que a gente ainda vai achar?”

5.
Chegou à pequena pousada no final da tarde. Lua cheia no céu da Guarda do Embaú.

Sentou-se na cadeira de plástico vagabundo e ao olhar para o espelho na porta de entrada do mínimo banheiro, outra cara estava ali para indagar:

– E aí? Foi lá? E você se encontrou? – num tom meio sério, meio sarcástico.

Respondeu apenas que não.

Na hora, a réplica providencial:

– Continue procurando.

6.
O cara dormiu até a segunda-feira.

Acordou e novamente pegou a trilha.

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