O cogumelo zebú
Parada psicodélica faz dormir e viajar como nunca imaginou
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em1.
Na fumaça do cigarro, o tempo de tudo e imagens desconexas.
Viajei pela a História – e pela minha história pessoal-, por algumas décadas antes e depois.
Tudo ainda desconectado.
A perda da noção do tempo “dos homens” é, por vezes, fundamental.
O cara piscou os olhos e procurou o foco.
Nada.
Tudo ainda embasado.
Colocou uma música no notebook:
“Faz de conta que ainda é cedo… como um dia de domingo”
Atordoado e cheio de emoção, pensou:
“O que acontece depois de anos e anos em nossas vidas? O que podem as lembranças realizar com nossos sentimentos? O que ocorre? O que se passa?”
2.
Saiu logo no início da manhã e pegou a trilha do Costão.
Passo a passo, meio ainda tropeçando, rumou para o Vale da Utopia.
Pela trilha foi encontrando sinais dos tempos: uma cobra verde passando
zingrando pela areia; duas Marias-Joanas brincando de fazer amor; um urubu comendo os restos da gaivota que sucumbiu; flores e perfumes inacreditáveis. Tropeçou e desceu rolando pela duna de entrada na praia do Maço e logo chegou até a Ponta das Andorinhas.
Deitou-se embaixo de uma pequena árvore e dormiu.
3.
Sonhou com dragões do mar, sereias que viriam para seduzi-lo, com coisas tão disformes e múltiplas que jamais conseguiria contar.
Acordou, mergulhou no grande Atlântico e aqueceu-se ao sol de verão.
Retomou a trilha.
Mas sem achar o Grande Cogumelo Zebú.
Paciência. Coisas da trilha.
O cara nem era dado a essas paradas psicodélicas, mas sabia dos lances e isso lhe provocava imensa curiosidade.
Tocou os passos em frente.
Desceu na Praia de Cima e tropeçou na pedra ao pisar na areia.
4.
Na descida da rua, ao pé do morro, parou no Bar do Zé. Tomou um goró, uma cerva gelada e ficou ouvindo as histórias do Zé.
“Amigo, tem vez que é assim…tem vez que não é… lembra que há uns anos quando o senhor chegou aqui e a gente se falou…contei o lance dom Cogumelo Zebú do Vale da Utopia?… pois então…ainda está lá… ninguém achou ainda. Será que a gente ainda vai achar?”
5.
Chegou à pequena pousada no final da tarde. Lua cheia no céu da Guarda do Embaú.
Sentou-se na cadeira de plástico vagabundo e ao olhar para o espelho na porta de entrada do mínimo banheiro, outra cara estava ali para indagar:
– E aí? Foi lá? E você se encontrou? – num tom meio sério, meio sarcástico.
Respondeu apenas que não.
Na hora, a réplica providencial:
– Continue procurando.
6.
O cara dormiu até a segunda-feira.
Acordou e novamente pegou a trilha.