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Racionamento de água

Paranoá está apodrecendo e o DF vai matar a sede nele

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Serena Veloso

A redução drástica nos últimos meses dos níveis dos reservatórios dos rios Santa Maria e Descoberto, bacias que abastecem o Distrito Federal, não só trouxe preocupação para autoridades e população, mas alertou sobre a necessidade de traçar novas estratégias para suprir a demanda crescente por água na região. Alternativas já estão sendo buscadas para ampliar a oferta em curto e médio prazo e para promover o uso racional de água. Especialistas da Universidade de Brasília analisam as soluções propostas para contornar a crise hídrica na capital federal.

Uma delas, já em andamento pelo Governo de Brasília, é a identificação de outras fontes para captação, como o Lago Paranoá e o rio São Bartolomeu – que tem enfrentado problemas com a poluição pela falta de um sistema adequado de esgotamento –, além da construção do reservatório do Bananal.

“O Lago Paranoá tem papel importantíssimo em curto e médio prazo, não só para aumentar a quantidade de água produzida, mas também para atender a áreas que hoje estão isoladas, como São Sebastião, Sobradinho e Planaltina”, analisa o professor Oscar de Moraes Cordeiro Netto, do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos da UnB e coordenador do projeto RIDEsab. A iniciativa busca diagnosticar o saneamento básico na Região Integrada de Desenvolvimento (RIDE) do DF e de dois estados brasileiros.

Apesar de se mostrar um projeto viável, para Marco Antonio Almeida de Souza, também professor da Pós-Graduação em Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos da UnB, o Lago Paranoá é uma fonte muito vulnerável em questão de despejo de resíduos, se comparado a bacias extremamente seguras, como a de Santa Maria, protegida pela área do Parque Nacional. “Se há lançamento de esgoto em rios que são mananciais, coloca-se em risco a saúde da população. Esse esgoto pode chegar aos pontos de captação de água e pode comprometer aquele manancial”, observa Almeida sobre a importância de avaliar a qualidade dos recursos hídricos utilizados no abastecimento.

Outra proposta em vigência é a parceria entre a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) e a Companhia de Saneamento de Goiás (Saneago) para utilização do Lago Corumbá IV, localizado no município de Abadiânia (GO), para atender a população do Distrito Federal e municípios do Entorno que fazem parte da Rede Integrada de Desenvolvimento.

A solução, ainda que contribua para amenizar possíveis cenários de escassez, pode ser cara para a Caesb. “O problema de buscar água fora é o transporte, um dos grandes custos. Qualquer lugar em que formos captar fora do Distrito Federal está mais baixo. Além de bombear de um local longe, a água terá que ser bombeada para cima”, analisa o professor Sérgio Koide, pesquisador da UnB da área de Recursos Hídricos, como fatores que encareceriam o procedimento.

Reduzir – Para além da ampliação da oferta, é necessário pensar o uso consciente da água. Com a estiagem, por conta do regime de chuvas ainda não normalizado, e a baixa nos sistemas que abastecem a cidade, a Caesb propôs reajuste de 20% na tarifa de água da região.

Já a Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento (Adasa) havia adotado, a pedido da Caesb, em setembro de 2016, medidas de restrição do consumo entre os brasilienses e para contenção de vazamentos, como a redução da pressão nas torneiras e a suspensão do abastecimento em algumas regiões. Além dessa ação, foi acionado recentemente um plano de racionamento em 15 regiões administrativas abastecidas pelo Rio Descoberto. Com a escassez de chuvas, estratégias para a redução do consumo ainda se fazem necessárias para auxiliar na reversão do quadro, ainda crítico.

Segundo Koide, medidas como a hidrometração por apartamentos e a reutilização da água podem contribuir para evitar desperdícios e reduzir o consumo em comércios e residências. A troca de equipamentos como vasos sanitários antigos, um dos grandes vilões no desperdício de água nas casas, também é válida. “O consumo de água cai em torno de 20%. Em prédios mais velhos, as pessoas não costumam trocar os vasos sanitários e os antigos são de alto consumo. Eles tomam em torno de 12 a 20 litros de água [por descarga]. Os novos, somente 6 litros”, avalia.

Experiências similares se mostraram exitosas em projeto coordenado pelo professor desde 1991, com o intuito de avaliar soluções, junto com a Prefeitura do Campus da UnB, para o crescente consumo e desperdício de água na instituição. Depois de diagnosticada, ao longo desse período, a necessidade de realização de reformas hidráulicas e de eliminação de vazamentos nos prédios – sobretudo em equipamentos como torneiras e válvulas de descargas sanitárias – ações implementadas garantiram grande redução no consumo.

De 1991 a 2015 houve queda de pouco mais de 60 mil para 35 mil metros cúbicos na quantidade de água consumida, mesmo com o crescimento vertiginoso no número de alunos que ingressaram na Universidade. A redução se deve ainda ao acordo feito com a Caesb para a hidrometração por prédio, enquanto a rede interna de distribuição passou a ser de responsabilidade da companhia.

Reaproveitar – O reuso da água para fins de consumo não potáveis, como jardinagem, limpeza de calçadas, descargas de vasos sanitários e automóveis, também é avaliado pelo professor Marco Antonio Almeida como ação positiva para o consumo sustentável. Segundo ele, a opção contribui para reduzir em até três vezes os impactos ambientais: primeiro quanto ao consumo, segundo quanto à poluição e terceiro quanto à energia consumida para levar água às torneiras.

“Para cada metro cúbico de esgoto que tratamos e fazemos o reuso, está sendo liberado um metro cúbico de água no manancial. Também deixamos de jogar esse um metro cúbico de esgoto tratado no meio ambiente”, explica.

No entanto, muito mais do que realizar ações pontuais, o professor Oscar de Moraes acredita que as respostas ao atual cenário deveriam ser buscadas por meio da participação social no debate. “Nosso maior desafio, tanto para a gestão da água no território quanto para a gestão de serviços, é que haja um empoderamento da sociedade para participar mais do processo”, ressalta.

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